Em uma decisão pouco comum entre aliados da Otan, o governo alemão anunciou nesta quinta-feira a expulsão do chefe dos serviços secretos americanos na Alemanha. A medida foi uma consequência dos supostos casos de espionagem em benefício de Washington.
- Pedimos ao representante dos serviços secretos americanos na embaixada dos Estados Unidos que abandone a Alemanha - declarou o porta-voz do governo, Steffen Seibert, em um comunicado.
Leia todas as notícias de Zero Hora
O deputado alemão Clemens Binninger, presidente da comissão de controle parlamentar sobre as atividades de inteligência - que se reúne nesta quinta-feira em Berlim - explicou que a expulsão ocorre "em reação a uma falta de cooperação (constatada) há algum tempo nos esforços de esclarecer" as atividades dos agentes americanos na Alemanha.
O acontecimento, muito raro entre aliados tão próximos dos Estados Unidos, tem poucos precedentes comparáveis. A França pediu em fevereiro de 1995 a expulsão de vários agentes americanos por espionagem em seu território.
- Acredito que seja justo o fato de o governo alemão enviar um sinal claro de que este tipo de quebra de confiança não será mais tolerado e que é necessário uma renovação (nas relações entre os dois países) - declarou a ministra da Defesa alemã, Ursula von der Leyen.
Casa Branca defende relação com a Alemanha
A Casa Branca se recusou a comentar a notícia da expulsão, mas ressaltou que é "essencial" manter a "cooperação estreita" com o governo alemão em todos os domínios.
- Vimos as informações e não fazemos comentário algum sobre um suposto assunto de inteligência. Mas nossa relação de segurança e inteligência com a Alemanha é muito importante e mantém alemães e americanos a salvo - disse a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Caitlin Hayden.
As autoridades alemãs anunciaram na quarta-feira que estão investigando um caso de suposta espionagem por parte de um agente, que, segundo a imprensa, seria um militar a serviço dos Estados Unidos, o segundo caso desse tipo revelado em poucos dias.
- Os agentes da Polícia Federal revistaram em Berlim a residência e o escritório de um suspeito de espionagem. Não foi efetuada qualquer detenção - anunciou o Ministério Público em um comunicado.
De acordo com a imprensa alemã, o caso é considerado mais grave do que o de um agente duplo que trabalhou para a CIA e foi descoberto e preso na semana passada. Um porta-voz do Ministério da Defesa declarou à AFP que estão sendo realizadas investigações sobre as suspeitas de um segundo caso de espionagem, confirmando assim a notícia antecipada pelo jornal Süddeutsche Zeitung.
Estes casos minam as relações entre os Estados Unidos e a Alemanha, já tensas desde as revelações sobre o grampo americano no celular da chanceler alemã Angela Merkel no ano passado.
Pressionada pela opinião pública, que exige uma posição mais firme nos casos de espionagem, Merkel não parou de exigir explicações, sem que Washington tenha se mostrado muito preocupado.
Alemães se posicionam sobre o caso
Referindo-se a crises internacionais, como na Ucrânia, no Oriente Médio ou no Afeganistão, Merkel ressaltou nesta quinta-feira a importância de uma relação de confiança.
- Eu acredito que, nestes tempos que podem ser muito confusos, é fundamental poder confiar nos aliados. Mais confiança pode envolver mais segurança - afirmou a chanceler, em uma coletiva de imprensa antes do anúncio da expulsão.
Já o ministro do Interior alemão, Thomas de Maizière, manifestou desinteresse pelas informações obtidas pelos americanos, de acordo com os primeiros elementos da investigação, mas criticou as práticas dos Estados Unidos.
- Se nos atermos ao que sabemos atualmente, as informações recolhidas por meio de espionagem são insignificantes. Mas o estrago político resultante é severo e desproporcional - opinou, antes de anunciar o fortalecimento da contra-espionagem alemã.
O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, declarou que os americanos cometeram "uma besteira" neste caso:
- O fato de os Estados Unidos recrutarem pessoas de segunda classe é muito idiota. Diante de tanta estupidez só podemos chorar. E é por isso que este assunto não tem divertido a chanceler - ressaltou o ministro à TV alemã Phoenix.
*AFP
Decisão polêmica
Berlim expulsa chefe dos serviços secretos americanos na Alemanha
A medida foi uma consequência dos supostos casos de espionagem em benefício de Washington
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: