Duas semanas atrás, escrevi que a melhor receita para provocar discriminação e violência é a separação de seres humanos em dois grupos rivais. Não importa o motivo da divisão - geográfico, histórico, religioso ou étnico -, a tendência é que os indivíduos de um lado odeiem os indivíduos do outro. Não temos controle consciente sobre esse ódio. Admitir essa característica da natureza humana é o primeiro passo para combatê-la.
Leia todas as colunas de Carlos Gerbase
O racismo, por exemplo, o mais odioso dos sentimentos humanos, tem origem na separação geográfica da espécie humana em regiões que não se comunicavam geneticamente. Na verdade, todas as raças humanas são praticamente a mesma coisa, e as diferenças de cor da pele ou tipo de cabelo são ridiculamente pequenas e tendem a simplesmente desaparecer, agora que o transporte barato e a globalização permitem um número crescente de uniões entre pessoas "diferentes". O problema é que isso vai levar algum tempo, e temos pressa para evitar os massacres recorrentes.
As mortes em partidas de futebol cresceram nas últimas décadas à medida que as autoridades tentaram impedir o contato entre as torcidas. A solução é exatamente o contrário: fazer com que Eles estejam entre Nós. Vimos isso acontecer na Copa, quando gremistas e colorados, devidamente uniformizados, caminharam juntos até o estádio e assistiram aos jogos lado a lado. Não é a mesma coisa, dirão logo os mais cautelosos. Eu concordo. Não podemos ser ingênuos. A segurança, em qualquer espetáculo que envolve milhares de pessoas deve ser sempre máxima. Segurança é pré-requisito, e não solução.
Minha proposta é a seguinte: nos próximos dois Gre-Nais, vamos formar duplas de torcedores uniformizados - obviamente, um do Grêmio e um do Inter - e essas pessoas (casais, namorados, amigos, vizinhos, colegas de escola ou de trabalho) irão para o estádio e assistirão ao jogo lado a lado. É óbvio que em alguns locais isso é impossível.
Cabe aos clubes, à federação e aos órgãos de segurança determinar onde seres humanos com camisetas de cores distintas podem exercer seu direitos de ir e vir e de se manifestar livremente durante uma partida de futebol. Podemos começar com um "cercadinho" para 200 duplas, e vamos aumentando pouco a pouco. Já sei quem vou levar para a Arena: o namorado da minha filha, que é colorado roxo. Será que isso é uma utopia? Ficção científica? Com a palavra, quem decide. Eu só sugeri.