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Passados quase dois meses da morte do aposentado Vilis Antônio Borghetti, de 86 anos, atropelado por um ônibus na Avenida Plínio Brasil Milano, em Porto Alegre, a família convive diariamente com o martírio da burocracia. Sem ter acesso ao laudo da necrópsia, fornecido pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP), não é possível encaminhar o pedido de pensão à viúva nem acessar a conta bancária do idoso e tampouco pedir o pagamento do Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT).
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A ausência do laudo também prejudica a conclusão do inquérito policial, necessário neste caso, já que a morte foi envolvendo um acidente de trânsito. Sem o documento, a família também não consegue ingressar com uma ação na Justiça para tentar uma indenização da prefeitura, que, segundo a família, também teria responsabilidade no caso.
- Tudo depende desse bendito laudo - desabafa a neta Fernanda Borghetti.
Fernanda é advogada e tenta desde o dia seguinte à morte do avô, em 6 de maio, reunir toda documentação necessária para encaminhar os direitos da avó, agora viúva. Com tudo reunido, resta apenas o laudo da necrópsia que esbarra na lentidão do Departamento Médico Legal (DML) do IGP.
A neta conta que a primeira dificuldade foi encontrada junto ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), onde deve encaminhar a pensão. Sem o laudo da morte do aposentado e sem o Número de Identificação do Trabalhador não teve êxito. A tentativa de pedir o Seguro DPVAT, na qual a avó tem direito a receber R$ 13.500, também foi frustrada, assim como o pedido sobre a conclusão do inquérito, que, segundo a Delegacia de Homicídios de Trânsito de Porto Alegre, precisa do documento para concluir a investigação e, assim, remeter à Justiça.
- É um desrespeito o que fazem com a gente. Eu cheguei a ouvir de uma atendente que pode levar até três meses para sair esse documento - afirma.
O IGP, em nota, não justifica o porquê da demora. Afirma somente que são necessários "exames complementares de laboratório" e que estes "estão sendo concluídos", mas também não dá prazo para a conclusão.
Enquanto isso, a família faz uma força-tarefa para cuidar da viúva. Doente e sofrendo com sérias complicações decorrentes do diabetes, Ilda Borghetti, de 75 anos, segue muito abalada. De acordo com a filha, a artista plástica Elizethe Borghetti, a "mãe está pesando 45 quilos" e o salário mínimo da aposentadoria "mal dá para pagar os remédios".
- Na verdade, nós só queremos devolver a dignidade à minha mãe. Ela não merece passar por isso - desabafa.
Demora evidência falta de estrutura, afirma Sindiperícias
Na avaliação do vice-presidente do Sindicato dos Servidores do Instituto-Geral de Perícias do Estado do Rio Grande do Sul (Sindiperícias), Henrique Bueno Machado, a demora pode estar aliada à situação enfrentada pelo IGP, conforme já relatado por Zero Hora.
- Falta investimento no Instituto em todos os setores. Nem o novo prédio foi alugado, ainda estamos espalhados - afirma.