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Das quase 16 mil pessoas expulsas de casa por conta da enchente no Rio Grande do Sul, 90% delas vivem na Fronteira Oeste. Em Itaqui, 9,8 mil moradores estão desalojados ou desabrigados - um quarto da população total. O município fronteiriço à Argentina tem 17 bairros e, conforme a prefeitura da cidade, oito estão submersos. São números que revelam o que a cheia insiste em não esconder.
O nível do Rio Uruguai estabilizou na noite de sexta-feira em Itaqui: 13,20 metros acima do normal. Mais acima, em São Borja, as águas já haviam baixado mais de dois metros neste sábado. O alerta, porém, corre rio abaixo: em Uruguaiana, o leito segue subindo e o Uruguai superou a marca dos 11,30 metros acima do normal.
- A enxurrada da Região Norte já passou por São Borja, Itaqui e ainda deve atingir um ponto alto em Uruguaiana. A expectativa é de que o rio chegue a esse nível na tarde deste sábado para, então, começar a descer - explica o coordenador regional da Defesa Civil em Uruguaiana, capitão Gerson Corrêa de Mello.
Na Fronteira Oeste, a cheia não se explica pela água que cai do céu, e sim pela água que corre do rio. A forte chuva em Santa Catarina e no norte gaúcho impacta no volume do Rio Uruguai, e as hidrelétricas de Itá (SC) e Machadinho (RS) precisam abrir suas comportas. Acompanhando a situação há mais de uma semana, o prefeito de Itaqui, Gilmarques Filho, diz que a vazão chegou a 25 mil metros cúbicos por segundo - dez vezes o escoamento habitual.
Clique no município atingido e saiba o número de pessoas fora de casa:
- A única maneira de resolver a cheia do Rio Uruguai é a construção da barragem de Garabi, em Garruchos. No momento que isso acontecer, não teremos mais uma situação de cheia tão drástica. O que já se pode projetar, mas que vai contra a cultura das pessoas, é a criação de casas móveis mais modernas, com maior estrutura - projeta o prefeito.
Em Itaqui, são cerca de 300 residências batizadas de volantes localizadas na área ribeirinha, a maioria de pescadores. Parte delas foi retirada por completo de dentro do rio. Há quase uma semana, essas famílias formam uma vila improvisada em um terreno e até na calçada no centro da cidade.
- As minhas outras duas casas eu perdi. As camas e o guarda-roupa se desmancharam, não deu para recolher as roupas. Coisas que a gente demora tanto tempo para conseguir - lamenta Ariovaldo Vieira, 61 anos, que está morando no vilarejo.
A previsão do tempo não anima a recuperação da cidade: deve chover entre sábado e domingo, inclusive com risco de queda de granizo, na Fronteira Oeste.
VÍDEO: repórter de ZH mostra Itaqui debaixo d'água
Aumenta o número de atingidos
A Defesa Civil do Rio Grande do Sul informou, na manhã deste sábado, dia 5, que subiu para 15.802 o número de pessoas atingidas por enchentes e enxurradas no Estado. O relatório aponta também que 1.676 continuam desabrigadas - aquelas que necessitam de um abrigo fornecido pelo governo -, e 14.126 estão desalojadas - em casas de parentes e amigos.
O total de municípios em situação de emergência continua 78. Duas cidades, Iraí, no Norte, e Barra do Guarita, no Noroeste, estão em estado de calamidade pública. Segundo a Defesa Civil, o motivo da redução do número de pessoas fora de casa é o retorno de algumas famílias para suas residências após dias de limpeza, principalmente na região Norte.
Chuva causou duas mortes e mulher segue desaparecida
A chuva que atinge o Estado já provocou duas mortes, de Eracildo Luiz Assmann, 56 anos, em Arroio do Tigre, e José Lindomar da Silva, 40 anos, em Jacutinga. A namorada de Eracildo, Paula Thom, 23 anos, segue desaparecida. O carro em que o casa estava caiu no rio Caixão, em Arroio do Tigre, na noite do último sábado.
Maior cheia das últimas três décadas
Enxurrada como a deste ano não era vista no Rio Grande do Sul desde 1983, que atingiu cidades como Itaqui, Iraí, São Borja e Uruguaiana.