Geral

Legado da Copa

O que empacou: duplicação da Tronco

Mundial colocou o poder público diante de uma oportunidade única: redesenhar cidades-sede para melhorar a mobilidade urbana. Passado o torneio, projetos deixam aprendizados para a Capital

Carlos Rollsing

Enviar emailVer perfil

Juliana Bublitz

Enviar emailVer perfil
Diego Vara / Agencia RBS
Terrenos indicam demolição de casas: há um longo trecho à margem da pista que ainda depende de remoções

A entrega da duplicação da Avenida Tronco era prevista para dezembro de 2012, mas a ordem de início dos trabalhos só saiu poucos meses antes, em maio. Atualmente, passado um ano e meio do prazo inicial, a prefeitura não se compromete com novo prazo.

A futura Avenida Tronco terá 6 quilômetros. Seu início será perto do Jockey Club, seguindo até a rótula da Avenida Coronel Gastão Mazeron, onde haverá uma bifurcação: um caminho para a Terceira Perimetral e outro para a Rótula do Papa. Será uma via de mão dupla, com corredor exclusivo para BRT, área e circulação de pedestres e ciclovia.

Leia mais
O que a Copa deixou como legado para Porto Alegre

O plano imperfeito
O projeto básico da Avenida Tronco foi o primeiro a ser concluído pelo Centro das Indústrias do Rio Grande do Sul (Ciergs), que fez um convênio para doar os estudos à prefeitura. A intenção era ter a avenida concluída com antecedência. Assim, poderia ser uma alternativa para os períodos de obras na Avenida Padre Cacique. Também para os dias de jogos da Copa no Beira-Rio, a ideia inicial era oferecer a Tronco como opção, já que o entorno do estádio estaria completamente bloqueado. O plano não deu certo.

A remoção conflituosa
O ritmo da obra é lento pela dificuldade em fazer a remoção de 1.525 famílias que residem às margens da via, em área da prefeitura. Até o momento, 722 casas foram removidas. São os casos de 478 famílias que aceitaram o bônus moradia de R$ 52,4 mil para comprar residência própria, 111 que receberam indenizações pelas construções e 133 que aderiram ao aluguel social pago enquanto as novas moradias, do Minha Casa Minha Vida, não ficam prontas. Outras 803 famílias ainda negociam.

A barreira
A prefeitura da Capital desapropriou 22 áreas num raio de dois quilômetros da Avenida Tronco. Nesses locais, construirá mil residências para abrigar as famílias que terão de deixar as atuais moradias. Assim, com as desapropriações concluídas, a obra viária poderá ser finalizada. A construção das casas é outro fator de demora. A prefeitura fez um chamamento público em 2011 para que se apresentassem empresas interessadas em fazer as construções pelo programa federal Minha Casa Minha Vida. Nenhuma interessada compareceu.

A falta de construtora
Ainda em 2011, um segundo chamamento foi feito, mas, novamente, o resultado foi deserto. Em agosto de 2012, na terceira chamada - quando a prefeitura ofereceu índices construtivos como bônus além do pagamento em dinheiro -, apareceram duas empresas interessadas em tocar o projeto. Estão sob análise cadastral da Caixa Econômica Federal. Se aprovadas pela instituição, as empresas poderão assinar contrato com a prefeitura e iniciar a construção das casas.

A projeção
Somente um dos seis quilômetros da Tronco está com obras finalizadas. A avenida, combinada com a Beira-Rio, será um elo entre a Primeira Perimetral (Loureiro da Silva, João Goulart, Mauá, Castelo Branco e Conceição) e a Terceira Perimetral. Engenheiros acreditam que a conclusão da obra constituirá um anel rodoviário em Porto Alegre, capaz de ajudar a desafogar o estrangulamento da mobilidade urbana na cidade. O legado da Tronco será ampliar as possibilidades de acesso à Zona Sul, oferecendo uma alternativa aos caminhos das avenidas Beira-Rio e Padre Cacique, que já registram tráfego pesado.

IMPACTO SOCIAL

Positivo

A aposentada Olga Reis Ribeiro, 73 anos, é só alegria na sua "chacrinha" no bairro Lomba do Pinheiro. Ela integra o grupo de famílias beneficiadas pelo bônus-moradia de R$ 52,4 mil pago pela prefeitura. Vivia em uma área destinada à duplicação da Tronco, no bairro Cristal, e aceitou deixar sua casa em troca do valor oferecido.

Com a ajuda de um filho, que também recebeu o bônus, conseguiu comprar a propriedade na zona rural de Porto Alegre e realizar um sonho antigo: viver com a família em uma área verde, longe da poluição urbana. Hoje, cria galinhas, mantém um pomar e torce para que aqueles que aguardam o benefício sejam contemplados:

- Lutei muito por isso e acho que meu caso pode servir de exemplo de que é possível superar as dificuldades. Não tenho do que reclamar.

Negativo

Moradores que vivem às margens da avenida a ser duplicada e que ainda não tiveram a situação resolvida estão passando por um período de ansiedade e frustração. De 1,5 mil famílias que precisam ser removidas, 722 já deixaram suas casas. O restante espera por uma definição.

É o caso de Manoel Fritz da Silva, 50 anos, proprietário de uma oficina de bicicletas na Avenida Moab Caldas. O prédio será reduzido pela metade por causa das obras. Silva não quer perder o ponto, onde tem freguesia cativa há mais de 25 anos, e exige uma indenização da prefeitura, mas segue sem resposta.

- No início, a coisa fluiu bem, mas depois parou. O pessoal da prefeitura prometeu fazer uma avaliação aqui na oficina, mas até agora não apareceu. É como se a gente não existisse. Minha mulher entrou em depressão com tudo isso, e não sei mais o que fazer - afirma.

Manoel não é o único a perder o sono. Nos arredores, outras famílias aguardam a construção de moradias do Minha Casa Minha Vida para poder se mudar.

Expectativa

Presidente da Associação dos Moradores e Amigos da Vila Tronco, Neves e Arredores (Amavtron), Paulo Jorge Amaral Cardoso resume a principal fonte de ansiedade da população no momento: que as moradias previstas pelo programa Minha Casa Minha Vida saiam do papel, para acalmar os ânimos.

Cardoso diz que as relações com o prefeito José Fortunati são boas, mas reivindica maior agilidade do Departamento Municipal de Habitação (Demhab).

- O que precisamos é de apartamentos prontos para que as pessoas possam se mudar logo e agilizar as obras - diz.

Apesar do atraso, o líder comunitário é otimista em relação ao futuro. Ele acredita que, quando pronta, a intervenção levará desenvolvimento econômico à região e oportunizará novas conquistas sociais aos habitantes da Vila Tronco.

GZH faz parte do The Trust Project
Saiba Mais
RBS BRAND STUDIO

Galpão da Gaúcha

08:00 - 09:30