Balsas levavam madeira à Argentina durante cheias no Rio Uruguai
Foto: Arquivo Pessoal

Dentro de seis meses, deverão estar concluídos os reparos na estrutura da Ponte da Integração, que liga Iraí, no norte do Rio Grande do Sul, a Palmitos, no oeste de Santa Catarina. O início da obra era aguardado com ansiedade pela população.
Construída sobre o Rio Uruguai há quatro décadas e com pouco mais de um quilômetro de extensão, a estrutura tem uma deformação exagerada em um dos vãos, constatada no ano passado. Um morador da região publicou na internet, em novembro, um vídeo da ponte balançando durante a passagem de caminhões. Com as cheias de junho, a travessia foi interrompida e reacendeu o alerta em agricultores, donos de agroindústrias e comerciantes de combustíveis da BR-386, que temiam prejuízos se não houvesse a liberação.
- Se não tiver uma nova cheia do Rio Uruguai, nós acreditamos que o conserto da ponte estará concluído em seis meses - comenta o superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no Estado, Pedro Luzardo Gomes.
O custo da obra é de R$ 7,8 milhões. Até a conclusão dos reparos, há restrição de trânsito. Deverá funcionar só uma pista e será permitida apenas a passagem de ônibus, carros e caminhões pequenos, diz Gomes. A ponte é estratégica, já que liga o Rio Grande do Sul ao meio-oeste do país, uma das regiões agrícolas mais produtivas do mundo e para onde centenas de famílias gaúchas migraram nos anos 1970. A maioria da produção de máquinas agrícolas produzidas em Não Me Toque, Ijuí e Horizontina são vendidas para os agricultores do Meio-Oeste.
- Em tempos normais, nós acreditamos que mil caminhões transitem pela ponte diariamente. Hoje, parte dessa frota está fazendo a travessia do Rio Uruguai em outras cidades, o que significa maior custo - alerta Sérgio Gonçalves Neto, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs).
O empresário conta que a ponte foi construída em um tempo em que a carga máxima de um caminhão era de oito toneladas; hoje, chega a 70. Portanto, conclui Neto, o cuidado com a estrutura deve ser constante.
Edivilson Brum, superintendente técnico e de Relações Institucionais da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), afirma que o ideal é, após o conserto emergencial, fazer uma reforma maior na ponte:
- A região já está sentindo o impacto econômico da restrição de trânsito. Seja pelos caminhões que tem de fazer o percurso longo, seja pelos veículos que deixam de passar pela estrada.
Construção desenvolveu a região
Por muitos anos, a Ponte da Integração foi um símbolo do progresso na região. Ela levou asfalto e desenvolvimento a Iraí, mudando a vazão do transporte. Atualmente, pelo menos 20% das cargas gaúchas que seguem para o centro-oeste do Brasil passam pela ponte, incluindo produtos como máquinas agrícolas e sementes de soja. A construção substituiu as antigas travessias de barcas que eram feitas para ligar o Rio Grande do Sul aos demais Estados.
- Na época que a ponte ficou pronta, os caminhoneiros retiraram o bloqueio e começaram a passar antes da inauguração. Era muito foguete para comemorar - conta o palestrante e pesquisador Jaime Folle, ex-secretário de Turismo do município, ressaltando que o fluxo de gente que chegava à cidade conhecida pelas águas termais teve uma elevação.
O aposentado Rubem Belmiro Schneider, 91 anos, concorda que a Ponte da Integração resultou em progresso para o município. Ex-caminhoneiro, ele lembra da época em que atravessava o Rio Uruguai em barcas, levando produtos como tabaco e madeira.
- Quando tinha enchente, eu descia com balsa para o lado da Argentina, com madeira - conta.
A atual ponte não é a primeira construída no local. O funcionário público Carlos Ariotti, 63 anos, lembra que, em 1965, outra estrutura estava sendo erguida a poucos metros do local.
- Estava mais ou menos na metade da construção. Mas veio a enchente e destruiu. Era uma ponte muito baixa - conta Ariotti, mostrando pedaços de concreto que continuam às margens do Rio Uruguai, na área conhecida como Safira.
