Fábio Prikladnicki
Tem certas coisas que temos que passar para os filhos. Uma delas, na minha opinião, é o disco Made in Japan (1972), do Deep Purple, um dos que podem levar o rótulo de clássico do rock. Neste ano, o registro ao vivo foi relançado em versões remasterizadas em diversos formatos, incluindo uma caixa com nove (!) LPs - e todos os extras possíveis.
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Estou falando de um daqueles álbuns que passam de pai para filho e para neto. Cada um o descobre a seu tempo. No meu caso, foi no final dos anos 1990. Embora tenha ouvido várias de suas faixas em fitas gravadas ou em CDs na casa de amigos, nunca o tinha fruído na íntegra até poucos dias atrás pelo Spotify.
O Deep Purple era, de longe, a minha banda preferida entre aquelas que formam a trindade do rock, categoria que inclui Led Zeppelin e Black Sabbath. E Made in Japan é um testemunho de uma época de virtuoses. Havia espaço para longos solos de bateria e de teclado. O caminho para a fama passava por horas intermináveis de estudo.
Certa vez, aprendi o solo de guitarra de Smoke on the Water para tocar no pátio do Colégio Israelita. Nossa banda durou apenas aquele show, mas foi o mais próximo que chegamos do estrelato. Nosso vocalista - que não era exatamente treinado em canto - tomou água gelada entre uma música e outra e acabou ficando rouco por uma semana depois. Um garoto do colégio que estava particularmente interessado em saber como funcionava meu pedal de distorção veio a se tornar figura conhecida no novo rock gaúcho.
Devo dizer que nosso sonho mesmo era tocar Highway Star, com seus solos de guitarra e de teclado apoteóticos. Cada vez que ouço Made in Japan, a vontade volta. Mas depois passa, e seguimos nossas vidas.