A Al-Qaeda teve dificuldades de encontrar os indivíduos adequados para realizar os ataques de 11 de setembro de 2001. Os veteranos da rede fundada em 1988 haviam servido por longos anos na jihad contra os soviéticos no Afeganistão e passaram por Sudão, Bósnia e Chechênia. Eram homens duros, às vezes mutilados e, sobretudo, conhecidos dos serviços de segurança.
Entre o final de 1999 e o início de 2000, Osama bin Laden e Mohammed Atef receberam em Kandahar, sul do Afeganistão, quatro árabes procedentes de Hamburgo, Alemanha. Tinham entre 20 e 31 anos, e três deles vinham da classe média urbana de Egito, Emirados Árabes e Líbano. Mohammed Atta, Ziad Jarrah, Marwan al-Sehhi e Ramzi bin Al-Shibh estudavam em grandes universidades e eram fluentes em inglês e alemão. Despontaram para o universo do terror não nas prisões do Oriente Médio, mas na mesma cidade alemã vibrante e cosmopolita na qual, 40 anos antes, outros três jovens estrangeiros chamados John Lennon, Paul McCartney e George Harrison haviam temperado suas guitarras para a revolução do rock'n'roll. Três dos quatro rapazes de Hamburgo pilotariam os aviões que atingiram o World Trade Center e o Pentágono.
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O sombrio humor dos reféns do grupo Estado Islâmico na Síria levou-os a apelidar três de seus sequestradores encapuzados de Beatles em razão de seu sotaque britânico. Foi justamente o acento do sul de Londres exibido pelo verdugo no vídeo da execução do jornalista americano James Foley que chamou atenção dos serviços secretos britânicos. O criminoso foi apelidado pela mídia de Jihadi John, e a Grã-Bretanha estaria a ponto de identificá-lo por meio de softwares de reconhecimento de voz. Os sequestradores do 11 de Setembro eram árabes familiarizados com a Europa mas, afinal, estrangeiros. Embora a guerrilha do EI seja considerada mais feroz e bárbara do que a Al-Qaeda, parece ter servido de ímã para indivíduos nascidos e imersos no que se convencionou chamar de "cultura ocidental". Esse dado insólito deveria servir de advertência àqueles que, como Tony Blair, se apressam em definir o que ocorre na Síria e no Iraque conforme a velha dicotomia maniqueísta de Oriente versus Ocidente.