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Em posse do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) desde a meia-noite desta quarta-feira, o gravador de voz do jato Cessna 560XL onde estava o candidato à Presidência Eduardo Campos irá revelar o diálogo na cabine de bordo nos minutos que antecederam a queda.
Em aviões comerciais, como um Boeing e um Airbus, existem duas caixas-pretas: a chamada Cockpit Voice Recorder (CVR), que registra a conversa entre os pilotos, e outra responsável pela documentação dos dados do voo, conhecida como Flight Data Recorder (FDR). Os modelos mais modernos de FDR costumam registrar mais de 80 parâmetros - entre eles, tempo, pressão, altitude, velocidade do ar, posição de controles e lemes.
Vídeo do Cenipa explica como será decodificado o áudio da caixa-preta:
Na aeronave que caiu em Santos, no entanto, havia apenas a caixa-preta de voz, o CVR. A informação é da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que regulamenta a exigência do equipamento em aviões que operam no espaço aéreo brasileiro. Conforme a agência, a regulamentação estabelece que apenas uma aeronave "multimotora, com motores a turbina, tendo uma configuração máxima para passageiros, excluindo qualquer assento para pilotos, com 10 ou mais assentos" deve ter FDR instalado. A aeronave PR-AFA tinha uma configuração para nove passageiros e, portanto, o FDR não era obrigatório.
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O CVR costuma captar o áudio de três microfones: o do comandante, o do co-piloto e de outro que fica em um painel sobre a cabine, registrado o som ambiente. Segundo o professor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Claudio Scherer, a caixa-preta de voz geralmente tem capacidade de gravar 30 minutos. Após esse tempo, o novo áudio é gravado por cima do arquivo antigo. Por ser um modelo mais novo, no entanto, a caixa-preta do Cessna 560XL tem capacidade de gravar duas horas, informou o Cenipa. Provavelmente, então, o equipamento gravou todo o voo - desde a decolagem no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, até a queda da aeronave em Santos.
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- Se acontece alguma coisa dentro da cabine, com certeza o comandante vai pedir algo, vai ordenar que o co-piloto faça alguma coisa. Essa gravação dos últimos minutos vai indicar como se deu o gerenciamento de recurso de cabine antes do acidente. Isso vai dizer como eles dividiram as tarefas durante a emergência e como estava o estado psicológico dos pilotos. Disso, é possível tirar muitas informações - afirma o aviador Georges Ferreira, especialista em Direito Aeronáutico e conselheiro da Associação Brasileira de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (Appa).
O equipamento já está em análise pelo Laboratório de Leitura e Análise de Dados de Gravadores de Voo (Labdata), onde foi desmontado para acesso à memória interna e avaliação das condições de leitura dos dados. Apesar do nome, uma caixa-preta nada tem de preta: o equipamento costuma levar as cores laranja ou vermelha justamente para facilitar a localização em caso de acidente. Revestido de aço inoxidável e titânio, o material é altamente resistente e, normalmente, é instalado na traseira das aeronaves - áreas que tendem a sofrer impactos menores em quedas. Segundo a Anac, no entanto, somente a fabricante do jato, a Cessna Aircraft Company, pode informar a localização certa. A empresa não respondeu à solicitação de Zero Hora.
- Geralmente, em um acidente aéreo a colisão é da parte frontal para a traseira, e a última será a menos impactada. Não é que a caixa-preta seja determinante, mas ela ajudará a esclarecer a queda. Em um avião, é um mecanismo para detectar falhas e que ajuda a criar políticas de prevenção para o futuro - explica o piloto e professor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUCRS Paulo Villas Boas.
* Zero Hora