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Índios caingangues pretendem voltar a acampar à beira da ERS-480, em Erval Grande, no norte do Estado, de onde foram retirados por centenas de agricultores na quarta-feira. Esta é a intenção do líder caingangue Jacinto de Paula, 50 anos, que, no final da manhã desta quinta-feira, estava no Ministério Público Federal (MPF) de Passo Fundo. No domingo, ele liderou o acampamento.
- Fomos acampar lá porque estamos reivindicando uma área de 20 mil hectares que pertenceu aos nossos antepassados - afirmou.
Segundo ele, os caingangues foram retirados à força pelos agricultores, mas agora estão atentos para não serem mais surpreendidos. Eles não especificam data para, novamente, acampar no local.
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A estratégia é marca registrada dos caingangues que estão envolvidos em outros conflitos agrários com agricultores, a maioria pequenos proprietários. A origem está na Constituição Federal de 1988, que garantiu aos índios a retomada das terras que pertenceram a tribos. Os colonos, por outro lado, alegam que compraram legalmente as propriedades. O impasse tem gerado uma situação explosiva no Rio Grande do Sul.
Ofício convocou a população para protesto
Um ofício da Comissão da Invasão Indígena de Erval Grande, formada por moradores da cidade, convocava a população a fechar estabelecimentos comerciais e participar de uma manifestação para "comover" os poderes públicos estadual e federal a tomar providências quanto ao acampamento indígena (reprodução abaixo). Integrante da comissão, o comerciante Alcione Paulo Massi disse que a ideia era fazer um protesto em frente ao acampamento. Segundo ele, a Funai ofereceu realocar os índios em uma área de Água Santa, possibilidade que teria sido recusada pelos integrantes do acampamento.
- Daí o povo disse: "vocês vão para a Funai". Foi acertado um caminhão e pedida uma van para levar eles a Passo Fundo. Não teve agressão. Eram 12 índios, mas, chegando em Passo Fundo, eles tinham chamado mais - relata Massi.
Na frente do prédio da Funai, os dois grupos entraram em confronto. A situação foi acalmada e controlada por uma patrulha do 3º Regimento de Polícia Montada (3º RPMon), que é responsável pela segurança da região.
O comerciante diz que o medo da população é que os índios se instalem em uma área, destruam casas e que acabe ocorrendo mortes como dos agricultores Alcemar Batista de Souza, 41 anos, e Anderson de Souza, 26 anos, assassinados a tiros e pauladas por indígenas por tentar furar um bloqueio numa estrada em abril, em Faxinalzinho.
Zero Hora tentou contato com a coordenação regional da Funai em Passo Fundo, mas não obteve sucesso.
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*Zero Hora