Aos pacientes, o cirurgião-dentista Silvio Carlos Beltrami Gonçalves garantia:
- Sou designer de dentes e vou de te deixar com sorriso de artista de TV.
Por quase duas décadas, ele honrou a palavra, tornando-se um badalado dentista de Capão da Canoa. O prestígio se espraiava a outros Estados com a mesma velocidade em que Beltrami dirigia sua Mercedes-Benz conversível importada SLK 200 - talvez a única do Litoral Norte.
Tratando dentes a peso de ouro, o dentista nascido há 44 anos, em Farroupilha, na Serra, e graduado em 1991 pela PUCRS, em Porto Alegre, ganhou dinheiro suficiente para erguer na própria moradia uma das mais modernas clínicas da região.
Instalado em um prédio de dois andares com quartos e suítes de internação como se fosse um hospital, o Centro de Saúde Beltrami ficava aberto até aos sábados e domingos.
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O carro-chefe eram os implantes, média de 60 por mês, número considerado altíssimo para os padrões da cidade. O dentista era auxiliado pela mulher, que conheceu quando morava e surfava em Torres - uma estudante de Odontologia seis anos mais jovem, que se formaria em 2013 e com a qual Beltrami viveu durante quase uma década. No Natal de 2010, ela foi à polícia dizer que estava saindo de casa, "por desentendimentos entre o casal". Nessa época, começaria a derrocada profissional de Beltrami.
A clínica amanhecia apinhada de pacientes do Litoral Norte, de Porto Alegre, de Santa Catarina. Para dar conta, Beltrami atendia de segunda a segunda das 7h até altas horas da noite. Segundo relatos de amigos e pacientes, suportaria o cansaço à base de analgésicos de uso restrito em ambiente hospitalar. A família chegou a interná-lo para tratamento desintoxicante. Como dentista, Beltrami tinha acesso livre a medicamentos especiais.
Beltrami atraía clientes de fora do Estado (Reprodução)
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