
Quem enfrentou o calor senegalês de janeiro, o inverno de araque em julho e um outubro com cara de verão sentiu na pele os sintomas de um planeta mais aquecido. Não foi uma simples sensação: de fato, é grande a possibilidade de 2014 desbancar 2010 e se tornar o ano mais quente da história, tanto em terra como nas superfícies dos oceanos.
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A estimativa é da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), agência americana de estudos meteorológicos que computa dados climáticos desde 1880. À exceção de fevereiro, todos os meses do ano até agora bateram recordes como os mais quentes de que se tem notícia.
Com a avaliação de setembro, já são 354 meses consecutivos - quase três décadas - com temperatura média global acima da média do século 20, que é de 13,9°C. A maior colaboração vem dos oceanos: em 2014, operou sobre a Terra o El Niño, fenômeno que provoca um aquecimento anormal das águas, alterando a dinâmica atmosférica e estabelecendo uma tendência a elevar as temperaturas.
- O El Niño movimenta a circulação geral da atmosfera de forma mais lenta, fazendo com que em algumas regiões do globo o índice de umidade diminua, causando mais calor - explica o pesquisador do Instituto de Geografia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Ademir Chiappetti, professor de Climatologia.
Os efeitos do fenômeno climático ainda vão reverberar em 2015 - o que é uma péssima notícia para a região de São Paulo, que deve permanecer sofrendo com a seca, segundo apontou a síntese de um relatório divulgado ontem pela Organização Mundial de Meteorologia.
Não é à toa que anos de El Niño estão entre os mais quentes já registrados. Apenas um dos "top 10" - 2013 - não registrou o fenômeno. A NOAA aponta outro dado interessante nesta lista: o ano de 1998 é o único do século 20, um indicador de que as temperaturas globais aumentaram devido, também, ao aumento de gases estufa na atmosfera durante as últimas décadas.
Planeta não está pronto para as novas médias
Esse aumento é o que preocupa representantes do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). De acordo com o programa da ONU, apesar de o aquecimento da Terra ser um evento natural e cíclico que acontece há muitas eras, sua crescente velocidade não permite que o planeta se adapte às novas temperaturas.
O ideal, segundo o órgão, é limitar o aumento médio da temperatura mundial a 2ºC até 2100 - uma proposta formulada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) frente ao risco de, caso não se diminua o uso de combustíveis fósseis poluentes, esta elevação chegar a 4,8ºC, o que seria "catastrófico".
- Essa meta traria menos consequências negativas para o clima, mas é considerada complicada de atingir, já que exige a redução das emissões de gases de efeito estufa - informou o Pnuma, citando como efeitos negativos o aumento no nível dos mares, a extinção de ecossistemas e os danos à agricultura.
A previsão para o Rio Grande do Sul
- Na terça-feira, os termômetros chegaram a marcar 36,8ºC em Uruguaiana, na Fronteira Oeste - desde fevereiro não havia um dia tão quente, conforme a Somar Meteorologia. Na Capital, a temperatura alcançou 33,8ºC no início da tarde.
- O tempo deve permanecer ensolarado nesta quarta-feira na maior parte do Estado, mas algumas pancadas de chuva já podem acontecer nas regiões Sul, Central e Oeste.
- Na quinta-feira, o tempo vira de vez: temporais são previstos para todo o Rio Grande do Sul, inclusive com possibilidade de queda de granizo, em função de uma frente fria vinda do Uruguai.
*Zero Hora