
Suakoko, Libéria

A estrada de terra serpenteia, atravessa um seringal e chega à colina, perto de um antigo leprosário. O ebola está sob ataque em um conjunto de prédios azuis. Voluntários ocidentais e trabalhadores liberianos identificam infectados, salvam uns e tentam conter o vírus. Jovens correm em círculos, enquanto aguardam os resultados de testes. A fumaça de um incinerador de resíduos médicos sobe. Médicos ficam irreconhecíveis em roupas de proteção amarelas. Pacientes que talvez não tenham ebola ouvem rádio com os que têm, separados por uma cerca.
7h20min - Meia dúzia de médicos e enfermeiros se reúnem para a troca do turno. Há 22 pacientes. Não houve mortes na madrugada. O centro não é superlotado como algumas clínicas em Monróvia, quatro horas a Oeste. Foi projetado para acomodar 70 doentes. Mas, com 200 funcionários, há a previsão de que cresça, após ter aberto as portas semanas atrás, e só tem duas ambulâncias. Um idoso, um dos mais falantes, agora está confuso, com os lençóis cobertos de sangue. Foi internado quatro dias atrás. Espera o diagnóstico.
- Acho que ele é positivo - diz o médico americano Colin Bucks.
- Talvez seja o fim da sua vida.
Oito pacientes precisavam de fluidos intravenosos contra a desidratação. Um deles jogava baralho.
Leia todas as últimas notícias de Zero Hora
7h40min - A reza da manhã começou com música e palmas. Cerca de 18 trabalhadores locais, vestindo botas de borracha e batas azuis, dançam e rezam. Alguns levam as mãos fechadas, revestidas de luvas de cores vivas, ao coração. Em uníssono, cantam "Cubra com seus braços protetores, ó Deus".
8h10min - Sean Casey, americano líder da equipe do centro, reuniu a equipe. O responsável pelas ambulâncias contou que cinco pacientes infectados esperavam transporte. A enfermaria estava cheia e precisava ser esvaziada. Havia pacientes com outras doenças. Deveriam ser transferidos.
8h40min - Uma liberiana tira mingau de inhame de um balde azul - desjejum para pacientes e funcionários. A comida é preparada em outro lugar, uma universidade fechada por causa do surto.
8h45min - A equipe - um médico americano e enfermeiros espanhol e queniano - coloca equipamentos de proteção peça por peça para entrar nas áreas de tratamento. Luvas, roupas espessas, máscaras, capas, aventais e óculos. O vestuário é verificado num espelho para garantir que nada esteja descoberto. Isso leva 20 minutos. Um médico entra na enfermaria dos pacientes suspeitos de infecção e pergunta se eles estão com fome. Funcionários descartam garrafas d'água e jogam sacos de lixo por sobre um portão. Limpadores chegam antes dos médicos, pulverizam o chão com cloro e pegam o lixo com baldes. A equipe debate se um conjunto de jogos de tabuleiro de madeira pode ser entregue aos pacientes. Casey é contra, por medo de que uma pessoa não infectada adoeça. Friederike Feuchte, psicólogo alemão, entende a decisão, mas fica decepcionado por vê-los "entediados". Um deles, Kolast Davies, 45 anos, concorda.
- Ficar aqui é estressante e chato.
10h - Dois homens vestindo roupas espessas e luvas de borracha carregam uma maca com um corpo num saco. À medida que caminham pela floresta, outro homem os segue, pulverizando o caminho de terra batida até que as folhas marrons brilhem com a solução de água sanitária. Estavam enterrando um homem de 38 anos.
10h50min - Médicos avaliam o primeiro conjunto de resultados de um novo laboratório móvel. Davies ficou sabendo que seu resultado foi negativo. Pode ir embora.
12h - Os baldes azuis em que estava o mingau de inhame do desjejum agora contêm arroz. É o almoço de médicos e enfermeiros.
13h - Membro da equipe volta do mercado com roupas de segunda mão para substituir as dos pacientes, que foram descartadas.
16h30min - Enfermeiros se vestem para dar medicamentos da tarde, aplicar fluidos intravenosos e colher sangue. Resultados chegam.
19h10min - Equipe do dia entrega pacientes à da noite. Doentes parecem melhor. E alguns, cujos testes deram negativo, podem ir para casa no dia seguinte.