
O ex-vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre, Adelino Vera Cruz Pinto, 52 anos, segue vivendo livremente em terras além-mar. Foragido internacional por conta de um golpe que teria desviado R$ 2,5 milhões da Arquidiocese da Igreja Católica da Capital, Pinto voltou a ser visto em imagens de TV, em uma festa de comemoração do Partido Socialista (PS), ao qual é ligado. No ano passado, Pinto apareceu em entrevistas postadas no YouTube nas quais se apresentava como cientista político, pregando teorias e versões sobre o Brasil e países sul-americanos.
Com o nome na lista da Interpol (Polícia Internacional) desde 2011, ele tem ordem de prisão preventiva decretada pela Justiça gaúcha, mas em Portugal vive sem ser importunado, sob a proteção da legislação local que impede a extradição de portugueses. Situação semelhante ocorre no Brasil, que não extradita, por exemplo, o político paulista Paulo Maluf, 83 anos, e o filho dele, Flávio Maluf, 52 anos, foragidos da Justiça dos Estados Unidos.
A última aparição pública do ex-vice-cônsul foi em rede nacional, na Televisão Independente (TVI), em 28 de setembro, durante programa de notícias que transmitia ao vivo o resultado de eleições primárias do PS, na qual foi escolhido António Costa como candidato a primeiro-ministro da sigla nas eleições de 2015.
Segunda maior rede de TV privada de Portugal, a TVI é uma das líderes de audiência em sinal aberto e, curiosamente, foi fundada, em 1993, por entidades ligadas à Igreja Católica, em Portugal.
Nas imagens, Pinto aparece, como sempre é visto, de paletó, sorrindo entre correligionários de Costa. Em uma das cenas, abraça o candidato do PS. Foi por influência da ligação de Pinto com o PS que ele foi nomeado a vice-cônsul português em Porto Alegre, em 2010. Na época, a representação de Portugal estava sem cônsul na capital gaúcha havia um ano e meio. Por questões político-financeiras, tinha rebaixado o status do escritório a vice-consulado, escolhendo para comandar o posto, em vez de um diplomata, um servidor de escalão inferior.
Desde setembro de 2011, Pinto é réu em processo por crime de estelionato, acusado de desviar R$ 2,5 milhões da Arquidiocese da Capital, ao negociar um suposto financiamento do governo português para restaurar igrejas de origem lusa no Rio Grande do Sul. O dinheiro seria a contrapartida da Igreja no financiamento de R$ 12 milhões. Pinto nunca apareceu para depor e deve ser julgado a revelia, mas não há data definida.