A recente invasão de computadores da Casa Branca por hackers supostamente ligados ao governo russo, que chegou a provocar o desligamento parcial do sistema atingido, mostrou a que ponto a cibersegurança tornou-se uma preocupação corriqueira na arena mundial. Embora turbinado pela carga simbólica da sede do governo americano, não há registro de que o incidentes tenha provocado maiores danos. Para efeito de comparação, mais de 200 agências governamentais de 29 países europeus participavam ontem de um exercício simulado de resposta a 2 mil ataques cibernéticos.
Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e especialista em segurança cibernética, Diego Canabarro lembra que os ataques denunciados pelos Estados Unidos na terça-feira não infiltraram redes fechadas da Casa Branca. "Atingiram alguns sistemas que são visíveis a todo e qualquer computador conectado às redes que integram a internet", afirmou Canabarro ao Olhar Global. "É difícil, por conta disso, inferir qualquer coisa a respeito das verdadeiras motivações de quem atacou." Entre as possíveis intenções, o especialista cita o colapso do funcionamento de serviços dependentes da rede atacada para causar transtornos (o que, de fato, acabou ocorrendo), o roubo de informações ou a simples exposição da vulnerabilidade do sistema.
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Sobre a suspeita contra a Rússia, Canabarro afirma que "o próprio jogo de acusações mútuas faz parte da política internacional", referindo-se ao relatório de 2012 da empresa Mandiant que apontava o exército chinês como autor de ciberataques a redes americanas, a revelação de que o vírus de computador Stuxnet visava a sabotar o programa nuclear iraniano e o escândalo WikiLeaks. Os russos, sustenta, não são alheios a essa trama. "Desde o ano de 2007, vem-se apontando a íntima ligação desses hackers com o governo russo, seja atuando como proxies do governo, seja como integrantes das forças de segurança e das forças militares do país", diz Canabarro.
E qual seria o grau de preparação do Brasil para enfrentar incidentes dessa natureza? Segundo Canabarro, o país tem investido de forma crescente em segurança e defesa cibernética. "A Estratégia Nacional de Defesa de 2010 transformou o setor cibernético num dos tripés de atuação das Forças Armadas. Já contamos com um Centro de Defesa Cibernética coordenado pelo Exército que acaba de ganhar os contornos de um verdadeiro Comando de Defesa Cibernética. Além disso, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República vem trabalhando para garantir a segurança da informação crítica aos tomadores de decisão", afirma.
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