Luiz Antônio Araujo
Não devo ser o único que, ao ouvir falar dos repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward, lembra instantaneamente dos atores Dustin Hoffmann e Robert Redford. No meu caso, a memória está associada a uma velha edição de seu livro mais famoso. Na capa, abaixo do título genial - e imitado à exaustão por mais de 40 anos -, havia a foto dos astros de Hollywood que tinham encarnado os autores da obra no longa de Alan J. Pakula.
Durante o funeral de Ben Bradlee, o nonagenário ex-editor do The Washington Post e comandante da investigação que levou Nixon à renúncia, Bernstein e Woodward se revezaram na tribuna para saudar o ex-chefe. Os dois tipos meio cabeludos dos anos Watergate parecem hoje mais velhos do que Nixon jamais foi: cabelos brancos, rugas, a postura encurvada própria de uma vida em busca do melhor lide, da citação exata, da palavra precisa - enfim, de algo que não manche a reputação de quem escreveu Todos os Homens do Presidente.
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Bradlee morreu. Woodward reagiu com despeito aos vazamentos de Edward Snowden. Só Bernstein assumiu a defesa do ex-analista de inteligência e dos jornais que publicaram suas revelações. Não se sabe de quem foram as últimas palavras no funeral. Assim como o título do livro sobre Watergate, poderiam ser de Shakespeare: "Resta ir embora, para falar um pouco mais dessas coisas tristes. Algumas serão perdoadas, outras serão punidas".