Foi graças a três moradores de rua que a polícia conseguiu prender dois suspeitos de terem estuprado uma adolescente de 16 anos. Ao ouvir os gritos da vítima, dois deles foram tentar socorrer a garota enquanto outro correu à Delegacia da Criança e do Adolescente (Deca) para chamar a polícia. O caso aconteceu próximo ao Anfiteatro Pôr do Sol, por volta das 23h30min de domingo.
Com um barraco de lona preta cravado às margens do Guaíba, nas proximidades do anfiteatro, o guardador de carros Everton Soares Pereira, 35 anos, foi um dos responsáveis por avisar a polícia a tempo. Foi ele quem ouviu os gritos de desespero da adolescente, que, segundo relatos, tentava pedir ajuda mesmo com a boca tapada pelo homem que foi detido minutos depois.
- Só pensei em tirar ela de lá - contou Pereira.
Quando se aproximou da cena, na esperança de resgatar a garota, um dos criminosos mostrou que estava armado, e mandou que o morador de rua fosse embora. Pereira então pediu que um amigo, outro morador de rua, fosse avisar a polícia do estupro enquanto ele procurava "um pedaço de pau" para se defender.
- Na hora que tu olha aquilo, só passa na cabeça salvar a guria. Ia de pau pra cima deles - relata.
Antes que ele colocasse em prática o plano de voltar sozinho ao local armado apenas com um galho, a polícia chegou. Um dos homens foi preso em flagrante e o outro fugiu, sendo detido pouco tempo depois.
- O que não estava estuprando a guria saiu correndo e atirando, mas a polícia pegou. Ajudei a carregar ela, que estava desmaiada - conta o morador de rua, que não se vê como um herói.
- Fiz o que todo mundo teria feito - responde com humildade o gaúcho de São Lourenço do Sul, que esta há oito anos morando nas ruas de Porto Alegre.
O morador de rua Everton Augusto Rodrigues Maciel também ajudou a polícia
Foto: Ronaldo Bernardi, Agência RBS
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Pereira tinha família - mulher e dois filhos - e um emprego em uma cabanha, onde cuidava de cavalos crioulos, mas perdeu tudo ao se render ao crack. Diz que sabe muito da lida com os animais, da encilha ao laço, e que já cuidou de cavalo selecionado para o Freio de Ouro. Nas ruas da Capital, conta que já atuou como catador, mas hoje prefere apenas guardar carros no Centro ou na Cidade Baixa.