Adriana Irion
A adolescente atacada por dois homens na noite de domingo, nas proximidades do Anfiteatro Pôr do Sol prestou depoimento no Departamento Estadual da Criança e do Adolescente (Deca) por cerca de uma hora, na tarde desta quinta-feira, em Porto Alegre. Conforme o pai, a estudante de 16 anos não recorda das circunstâncias do crime. Ao ver as fotos dos agressores, presos em flagrante, disse que não os reconhecia.
- Ela não lembra nada, desmaiou, havia bebido. Se estivesse sóbria, essa dor estaria pior - diz o bancário de 45 anos.
Ao retornar para casa depois do depoimento, no final da tarde, na zona leste da Capital, a garota de olhos verdes, cabelos castanho claro e piercing no nariz sorriu e brincou com a sobrinha, de quatro anos. É na expressão dos pais, ambos com olhos avermelhados pelo choro, que está estampado o drama que a família vive desde domingo, quando a garota saiu para uma festa e acabou hospitalizada após ser vítima de abuso sexual.
Sua Segurança: Indecisão diante do crime
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A família evita perguntar detalhes à estudante. Na casa simples em que ela vive com os pais e duas irmãs mais velhas, o clima é de desconforto com a libertação pela Justiça de um dos suspeitos.
- Se um pai desesperado der um tiro ou agredir um vagabundo desses, vai ficar preso vários dias. Já ele saiu no dia seguinte, mesmo preso em flagrante. Não é uma suspeita, foi consumado (o estupro), foi visto pela polícia (pelo menos um policial relatou ter encontrado o suspeito deitado sobre a jovem) - desabafa o bancário.
O pai da vítima diz que está sofrendo por medo e pelo sentimento de impunidade:
- Eu temo pela minha filha, que é uma testemunha e sai na rua, pela minha família e pelos moradores de rua que a socorreram, que fizeram o que muito engravatado não faria. Fica esse sentimento de impotência quando um juiz bate o martelo como se alguém tivesse o direito de estuprar e ficar solto.
Mas a família tem esperança. O bancário contou ter sido procurado por representantes do Ministério Público do Estado:
- Pediram tudo que eu tinha do hospital e dei autorização para retirarem o prontuário. Disseram que querem colocá-lo (o suspeito solto) na cadeia. O juiz tem liberdade para decidir, analisar fatos e leis, mas ele buscou todas as alternativas e brechas para soltá-lo.