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Após uma eleição com número recorde de votantes, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) será comandado novamente por um grupo com orientação política de esquerda. A chapa 3, "Podemos! Mobilizar e Conquistar", obteve 37% dos votos, superando a principal concorrente (a chapa 1, ligada à atual gestão) em quase 700 votos, e vai dirigir o DCE até o final de 2015.
O grupo é o mesmo que coordenava o diretório em 2013 e perdeu as eleições para a atual gestão - que, embora afirme ser apoiada por conservadores, marxistas e anarquistas, se considera ideologicamente de direita. Além de ser formada por estudantes sem vínculo político-partidário formal, a chapa vencedora Podemos! tem em sua nominata militantes do PSOL, do PSTU e membros do coletivo Alicerce Juventude.
Para a estudante de Jornalismo Nathália Bittencurt, uma das integrantes da chapa 3, a vitória deste ano veio a partir de uma revisão do movimento de esquerda dentro da UFRGS após a derrota na eleição anterior. De acordo com a futura coordenadora de finanças do DCE, o processo eleitoral no país também instigou as eleições estudantis neste ano, levando a uma maior participação nas urnas.
- Fomos atrás daqueles que não se sentiram representados por esse atual DCE, apático. Foi uma derrota do conservadorismo, de uma gestão que se manteve ausente em relação aos principais assuntos da universidade, como a questão da segurança e da infraestrutura, e fez um papel despolitizante nessas eleições. Essa é uma grande vitória para a nossa chapa, que é a mais representativa de esquerda - analisa Nathália.
Coordenador da chapa 1, DCE de verdade: o nosso partido é o estudante 2.0, o estudante de Engenharia Metalúrgica Cleber Gugel Machado concorda que problemas de infraestrutura - como a explosão de uma caldeira no Restaurante Universitário do Campus do Vale, a interdição de um prédio no Campus Central, o alagamento da biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) -, não resolvidos pela gestão atual, se sobrepuseram a realizações do mandato.
- Nesse ano a universidade enfrentou uma série de problemas estruturais que vêm de anos. Quando vencemos as eleições, prometemos que iríamos tentar resolvê-los. Fomos atrás, mas é um déficit de 10 anos, difícil de solucionar em apenas um. Fizemos uma gestão que julgamos ser boa, mas a chapa 3 soube apontar os problemas da universidade. Isso definiu o resultado das urnas - reconhece Cleber.
Eleições no país foram determinantes, diz presidente da Comissão Eleitoral
Para o presidente da Comissão Eleitoral do pleito, o estudante de Filosofia Fábio Kucera, as eleições presidenciais e para o governo do Estado foram determinantes no cenário eleitoral na UFRGS. Segundo o acadêmico, das cinco chapas concorrentes, quatro tinham um perfil de esquerda e souberam "se apoiar no cenário nacional".
- A chapa de situação, que tem um perfil mais de direita, se pautou muito na questão estudantil, e não se envolveu efetivamente nas eleições para presidência e governo estadual nesse ano. Eles defenderam a independência, o apartidarismo, tentaram purificar o próprio movimento. Já a esquerda optou pela atuação no campo ideológico. Acho que esse cenário desfavoreceu a direita nesse momento. Mas não acredito que a polarização tenha terminado - considera Kucera.
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De acordo com Nathália, a Podemos! promoverá, logo de saída, um seminário de gestão que, com ajuda de estudandes, deve definir as prioridades de 2015. Algumas intenções, no entanto, já foram traçadas pelos componentes da chapa 3:
- Pretendemos trabalhar com a diversidade, com políticas para mulheres, direito LGBT, direito das mães estudantes e priorizar questão da segurança nos campi. É uma série de assuntos que precisam ser debatidos e que não tiveram a devida atenção durante o ano. Também queremos valorizar a permanência do aluno na universidade, fazendo com bibliotecas fiquem abertas até mais tarde para não prejudicar os estudantes que trabalham durante o dia, e dar uma maior atenção aos cotistas que não chegam na universidade com as mesmas condições de desempenho.
Nessas eleições, 30 urnas foram espalhadas pelos campi da universidade. A votação ocorreu nos dias 18, 19 e 20 de novembro.
Confira abaixo, os números finais:
Chapa 3 - "Podemos! Mobilizar e Conquistar": 2.643 votos (37,04%)
Chapa 1 - "DCE de Verdade: Nosso Partido é o Estudante 2.0": 1.951 votos (27,34%)
Chapa 2 - "Na Mesma Barca: Unidade é pra Lutar!": 1.384 votos (19,40%)
Chapa 5 - "Coragem pra Mudar": 963 votos (13,49%)
Chapa 4 - "Ação Libertadora Estudantil": 138 votos (1,93%)
Votos brancos: 19
Votos nulos: 36
* Zero Hora