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A Polícia Federal prendeu na manhã desta quarta-feira, na Operação Ave de Rapina, o empresário Eliseu Kopp, dono da Kopp Tecnologia.
A empresa gaúcha é uma das principais investigadas em um esquema que teria fraudado contratos e licitações do executivo municipal de Florianópolis, com um prejuízo calculado em torno de R$ 30 milhões.
Os outros dois presos no Rio Grande do Sul também trabalham na empresa: um executivo, Décio Stangherlin e Fabiano Barreto, funcionário. Zero Hora fez contato com a Kopp Tecnologia, que tem sede em Vera Cruz, e a empresa informou que não vai se manifestar por enquanto.
A empresa, que fabrica controladores de velocidade, é investigada por participação na fraude que é alvo da operação "Ave de Rapina", da Polícia Federal (PF). A operação desarticula, nesta quarta-feira, um grupo que praticava crimes contra a administração pública em Santa Catarina.
As ações da polícia ocorrem nas cidades catarinenses de Florianópolis e Joaçaba, e também em Porto Alegre, Vera Cruz, Santa Cruz do Sul e Flores da Cunha.
Ao todo, são 38 mandados de busca e apreensão, de prisão e de condução coercitiva para colher depoimentos. Em coletiva de imprensa na manhã desta quarta-feira, a PF informou que cumpriu 15 mandados de prisão - três deles no Rio Grande do Sul. Treze pessoas estão presas e duas foragidas.
Também foram apreendidos mais de R$ 200 mil, sendo que R$ 35 mil na casa de um dos investigados no Estado. De acordo com a PF, há indícios de editais direcionados em licitações vencidas por empresas na prefeitura de Florianópolis. A suspeita é de oferecimento de propina mensal a servidores em troca de contratos.
Em 2011, uma apuração de indícios de direcionamento de editais envolvendo oito empresas também incluía a Kopp. Dois anos depois, baseado em ação civil pública de 2001, o dono da Kopp, Eliseu Kopp, e políticos ligados à prefeitura de Sapucaia do Sul foram condenados por improbidade administrativa por direcionamento de licitação.
Entre os presos em Santa Catarina estão o presidente da Fundação Cultural Franklin Cascaes (FCFFC), João Augusto Freyesleben Valle Pereira, o ex-comandante da Guarda Municipal de Florianópolis, Jean Carlos Viana Cardoso, e o ex-diretor de operações do IPUF, Júlio Pereira Machado.
Em setembro, Cardoso e Machado foram flagrados pela Polícia Rodoviária Federal com quase R$ 100 mil e propaganda eleitoral quando se deslocavam de Porto Alegre para Florianópolis. Na época, eles contaram que estiveram na empresa Kopp, localizada na capital gaúcha, responsável por prestar serviços de fiscalização eletrônica de trânsito em Florianópolis.
O presidente da Câmara de Vereadores de Florianópolia, César Faria (PSD), foi encaminhado para prestar depoimento, e o vereador Marcos Aurélio Espíndola (PSD), o Badeko, é um dos foragidos.
A investigação
De acordo com informações da PF, a investigação comprovou a existência de um esquema de corrupção inserido na Câmara de Vereadores, Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF) e na Fundação Cultural Franklin Cascaes, em Florianópolis. Servidores públicos estariam recebendo dinheiro de empresários em troca da manutenção ou elaboração de contratos milionários.
Os esquemas
A investigação aponta que empresas especializadas em radares e lombadas eletrônicas simulavam concorrência em licitações com o apoio de servidores para garantir a elaboração de contratos com o poder público. Em troca, pagavam mensalmente propina aos integrantes da organização criminosa.
Outro esquema envolvia fraude de licitações em eventos festivos e culturais. Segundo a PF, empresários especializados no ramo recebiam de agentes públicos informações privilegiadas relativas às empresas concorrentes e orientações de como proceder para fraudar a licitação - com consequente desvio e apropriação de recursos públicos.
A PF também apurou que existência de corrupção no tocante a elaboração de leis municipais em Florianópolis, visando beneficiar empresários, que pagavam altas quantias em dinheiro para ter seus interesses estampados nas normas municipais.
Durante as investigações foi comprovada a realização de depósitos e saques do dinheiro referente à propina, com a utilização da conta de laranjas e a apreensão de um valor de aproximadamente 100 mil reais no Rio Grande do Sul, juntamente com aditivos contratuais superfaturados em Florianópolis. A Operação envolveu um efetivo de aproximadamente 200 policiais.
Contraponto
Em nota divulgada na manhã desta quarta-feira, a Prefeitura de Florianópolis afirma que aguarda mais informações sobre a operação para definir as medidas a serem tomadas no âmbito administrativo. A administração se coloca à disposição da Polícia Federal e de qualquer órgão de controle para esclarecimentos necessários.
Confira fotos da operação: