Enquanto o Brasil estipulou a meta de oferecer ao menos sete horas de aprendizagem para 25% dos alunos até 2024, os Estados Unidos discutem como ampliar essa carga horária. Para isso, muitas escolas públicas estadunidenses apoiam-se em organizações não-governamentais, o que tende a ser o futuro do Brasil.
O que é o ensino integral, meta do governo para salvar a educação pública
A diretora executiva da organização não-governamental com sede em Nova Iorque Every Hour Counts (Cada Hora Conta, no português), Jessica Donner, explica que nos Estados Unidos, onde os alunos passam cerca de sete horas na escola, a maioria dos colégios mantêm parcerias com ONGs para trabalhos após o período escolar, chamados de programas "after-school". Assim, os estudantes podem receber até mais três horas de aprendizagem por dia, somando 10 horas no total. O saldo é 150% superior à carga horária da maioria das escolas brasileiras, onde os alunos passam apenas quatro horas por dia.
Em visita ao Brasil para palestrar no Seminário Internacional "Educação + Participação = Educação Integral", realizado há dez dias em São Paulo pela Fundação Itaú Social, Jessica explica que os programas after-school são essenciais para diminuir o "abismo" educacional entre estudantes ricos e de baixa renda. Nos Estados Unidos, segundo a diretora executiva, filhos de famílias ricas chegam aos 12 anos com seis mil horas de aprendizagem a mais do que os pobres.
Por isso, a organização dirigida por ela coordena programas after-school oferecidos para alunos de baixa renda por todos os Estados Unidos, dando suporte na arrecadação de verba, no desenvolvimento das atividades e na avaliação dos projetos. Na prática, funciona como uma ONG que coordena várias ONGs. Antes dessa gestão, conforme Jessica, havia desperdício de recursos e programas de qualidade irregular.
- Os programas after-school são suscetíveis a mudanças na política e na economia, então precisam de investimentos contínuos tanto do setor público como do privado - disse a diretora executiva.
A sugestão de Jessica para o Brasil é que o país invista nas parcerias com ONGs para viabilizar o ensino integral. Além de diversificar atividades, apropriar-se de ambientes fora da escola pode solucionar um dos maiores problemas enfrentados pelos colégios que planejam oferecer dois turnos a cada aluno: a falta de espaço físico.
- Não cabem duas crianças ao mesmo tempo no mesmo lugar - comentou uma educadora que assistia a palestra de Jessica.
Apesar de muitas experiências bem-sucedidas no país, a parceria entre escolas e ONGs nem sempre pode ser benéfica. Um dos riscos dessa atividade no país, conforme Lucia Couto, ex-coordenadora de Ensino Fundamental do Ministério da Educação e atual gerente de Desenvolvimento e Conteúdo do Instituto Unibanco, é o desvio de verbas públicas. Por isso, ela sugere que o país crie um marco regulatório para a educação integral, em que ONGs participem do processo.
- As ONGs podem ser boas, mas também podem ser ruins, por isso a necessidade de uma regulamentação. Precisamos de regras tanto para proteger o Estado do oportunismo, como para valorizar as organizações sérias - explica.
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Em Novo Hamburgo, escola investe em parcerias
Com educação integral desde 2009 por meio do programa Mais Educação, do governo federal, a Escola Municipal de Ensino Fundamental José Bonifácio, em Novo Hamburgo, investe na parceria com outras instituições para oferecer atividades no contraturno.
Localizada no bairro Primavera, na periferia da cidade, a escola atende 370 alunos até o 5º ano do Ensino Fundamental. Quase metade dos estudantes integra o Mais Educação, com seis horas e meia de aprendizagem diárias. Com limitações de espaço, a escola conta com parcerias com uma paróquia para aulas de futsal, com o Sindicato dos Comerciários para natação, com uma escola de samba para aulas de percussão e com uma escola técnica para robótica.
Segundo a a diretora Cristina Dorneles Nonnenmapher, para a escola, contar com parcerias com ONGs foi o caminho para vencer a falta de espaço na hora de oferecer o ensino integral.
- Também oferecemos aulas de judô e dança, mas nossa intenção é conseguir mais espaço, principalmente para atividades físicas, pois só temos uma quadra - relata a diretora.