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Criador da Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira(CPMF), imposto destinado a fortalecer o combalido sistema de saúde brasileiro, Adib Jatene, morto na última sexta-feira aos 85 anos, foi muito mais do que um ministro de Estado que despontou no noticiário durante os mandatos de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso.
Cardiologista formado na Universidade de São Paulo (USP), o acriano de origem libanesa deixou um valioso legado para a medicina. Jatene, referência em cirurgia cardíaca, executou o primeito implante de ponte de safena no Brasil. Formou gerações de profissionais e marcou pacientes e colegas pelo forte humanismo que norteava sua prática.
- Ele tinha vocação para o debate. Impressionava a clareza que tinha sobre os rumos da medicina - afirmou o oncologista Drauzio Varella.
Ivo Nesralla, presidente da Fundação Instituto de Cardiologia, em Porto Alegre, partiu para São Paulo no final da década de 1960 para completar a residência no Instituto Dante Pazzanese, onde aprendeu com Jatene. Nesralla cita um dos feitos que atestam o prestígio do antigo professor: Jatene batizou uma cirurgia inédita no mundo há cerca de 20 anos, empregada nos casos de uma determinada cardiopatia congênita.
- Ele foi um inovador. Desenvolveu várias técnicas que ajudaram muito no progresso da cirurgia do coração - recorda Nesralla. - Ele repetia muito que o cirurgião tem que manter a humildade. "Que Deus me dê muito sucesso para manter o entusiasmo e fracassos suficientes para manter a humildade" _ cita o médico.
Cirurgião cardiovascular e diretor do Hospital São Francisco de Cardiologia da Santa Casa de Porto Alegre, Fernando Lucchese também absorveu os ensinamentos do mestre. Lembra da faceta de construtor - em uma oficina dentro do hospital, Jatene confeccionava, ele próprio, os marca-passos e as válvulas que seriam utilizados nos procedimentos, driblando as carências do mercado nacional e as dificuldades para importação de equipamentos.
- Ele também construiu o sonho de financiar e acertar a saúde pública brasileira. Construiu uma geração de novos cirurgiões e discípulos. Construiu uma trajetória de cirurgião com prestígio internacional. Devo a ele minha vida profissional. Foi um homem muito à frente do seu tempo - afirma Lucchese.
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A carreira
- Diretor-geral do Hospital do Coração e do Instituto Dante Pazzanese, em São Paulo
- 20 mil procedimentos cirúrgicos no currículo
- 700 trabalhos científicos publicados em publicações nacionais e internacionais, como autor e co-autor
- Realizador da primeira cirurgia de ponte de safena no Brasil
- Criador de elementos para a área de cirurgia cardíaca, como válvulas e marca-passos
- Secretário estadual da Saúde de São Paulo (1979-1982), na gestão de Paulo Maluf, e ministro, na mesma área, durante os mandatos de Fernando Collor (1992, durante oito meses) e Fernando Henrique Cardoso (1995-1996, por 22 meses). No governo FHC, criou a Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira (CPMF)
O que disseram sobre ele
"Ele tinha vocação para o debate. Impressionava a clareza que tinha sobre os rumos da medicina."
Drauzio Varella, oncologista
"A perda do professor e ministro Adib Jatene é motivo de absoluta tristeza. A saúde pública está em luto. Homem de princípios e sempre na vanguarda da defesa da saúde dos mais necessitados, foi fundamental para a consolidação do SUS em São Paulo e no Brasil."
David Uip, infectologista e secretário de saúde do Estado de São Paulo
"Adib fez inovações que ficaram pro mundo todo. Suava a camisa, trabalhava muito. Foi na época do Adib [como ministro] que de fato começou a luta contra a Aids no Brasil. Também o programa de saúde da família teve seu primeiro impulso."
José Serra (PSDB-SP), senador eleito e ex-ministro da Saúde
"Especialista em gente. Sempre respeitoso ao defender posições e no cuidado com pacientes."
Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde
"Foi um dos mais importantes cardiologistas do Brasil e um dos artífices da criação da CPMF, que permitiu destinar mais recursos para a saúde."
Dilma Rousseff, presidente da República