
Na última sexta-feira, depois de oito anos de tratamento e luta, o músico Luciano Leindecker, da banda Cidadão Quem, morreu, deixando mulher e filhos. Ele estava em tratamento intenso contra o mieloma múltiplo, mas não resistiu e faleceu devido a complicações relacionadas à doença.
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O mieloma múltiplo, doença que vitimou o músico, é normalmente descrito como um câncer que se desenvolve na medula óssea, devido ao crescimento descontrolado de células plasmáticas. A médica hematologista Rosane Bittencourt, especialista em mieloma múltiplo do Hospital de Clínicas, explica que os plasmócitos são importantíssimos para a imunidade, mas, ao sofrerem mutação, transformam-se em células malignas. E é exatamente o que acontece no mieloma múltiplo:
- O mieloma é um câncer na fábrica do sangue. A origem da doença é na medula óssea, mas ela se espalha. Essa célula se origina na medula, mas ela produz muita citocina (proteínas que modulam a função das células e auxiliam no controle imune), o que acaba interferindo em todo o processo do organismo e atingindo outros órgaos, principalmente os ossos e o rim - explica.
Sintomas são poucas vezes reconhecidos rapidamente
Com isso, os sintomas se manifestam principalmente nessas duas áreas. Segundo a especialista, as primeiras formas de manifestação da doença são dor nos ossos e anemia - sintomas corriqueiros, que na maioria das vezes são menosprezados. Por isso, explica, o mieloma é de diagnóstico difícil, apesar de não ser uma doença rara:
- É incomum, mas é o segundo câncer hematológico (relacionado ao sangue) em incidência, depois do linfoma não-Hodgkin. Só que é uma doença de difícil diagnóstico, porque só quem pensa nela é o especialista. Os sintomas são relativamente banalizados por pacientes, clínicos gerais e outros especialistas - alerta a médica.
Doença ainda não tem cura, mas 80% dos pacientes respondem bem à quimioterapia
Não existe cura para o mieloma. Entretanto, Rosane garante que a doença é "absolutamente tratável". Além de drogas recentes, que agem no ciclo celular, normalmente os pacientes passam por quimioterapia e transplante de medula. Depois desse primeiro tratamento, são feitas "terapias de consolidação e manutenção" - às vezes, com mais sessões de quimioterapia, ou com drogas. Com isso, explica a especialista, a sobrevida é expandida para até 15 anos, e o paciente fica sem sintomas.
Portanto, Rosane diz que é importante, em check-ups, ficar atento para anemia ou qualquer tipo de osteoporose.
- Não existe prevenção, não conhecemos nada que possa ser feito para evitar, porque é uma mutação no DNA. Não sabemos qual é o fator desencadeante - explica.
No entanto, ela garante que, depois de feitos todos os procedimentos posteriores à descoberta da doença, que podem ser relativamente longos, a vida do paciente segue normal. As dores cessam, a anemia vai embora, e a pessoa pode voltar a viver normalmente.
Para mais informações sobre a doença, existe um grupo de médicos que estuda pontualmente o mieloma múltiplo, chamado Grupo Brasileiro de Mieloma Múltiplo (GBRAM). Eles são ligados ao International Myeloma Fundation (IMF), entidade referência no assunto.