
Insatisfeitos com o resultado da eleição presidencial, manifestantes saíram às ruas de cidades como Porto Alegre e São Paulo nos últimos dias para fazer exigências que variam de uma auditoria na votação até o impeachment da presidente ou uma intervenção militar para demovê-la do poder. O combustível desses atos, na avaliação de cientistas políticos, é um discurso antipetista que está dando visibilidade e unidade a diferentes correntes políticas alinhadas à direita.
Para o cientista político Bruno Lima Rocha, professor da ESPM, da Unisinos e da Unifin, as manifestações contra Dilma Rousseff (PT) se sustentam em um "antipetismo" e um "antilulismo" que já haviam aflorado em meio aos protestos de junho de 2013. Os gritos de "fora, Dilma" estariam unindo correntes mais moderadas de oposição a outras mais radicais de direita.
- Não é um grupo homogêneo ou absoluto. O que houve agora, em cidades como São Paulo, foi uma confluência de interesses, desde o saudosismo da ditadura até a noção de que vivemos um bloqueio do sistema político em razão de que quem se beneficia das políticas sociais do governo federal teria, segundo esse ponto de vista, um vínculo de sobrevivência com o governo atual e, por isso, votaria nele - analisa Rocha.
PSDB afirma que não deu apoio a ato contra Dilma
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Diferentes elementos estariam ajudando a sustentar essas vozes, que teriam somado 2,5 mil pessoas em São Paulo e mais de 300 em Porto Alegre, sábado passado, entre outras cidades:
1) A divulgação de novas irregularidades envolvendo a Petrobras, na avaliação do cientista político e coordenador do curso de Ciências Sociais da Ulbra Paulo Moura
2) O resultado apertado nas urnas (51,6% a 48,4% em favor de Dilma), que aumentou o sentimento de frustração entre quem apoiava Aécio Neves (PSDB), ainda segundo Moura
3) Uma interpretação ("alarmista", segundo Rocha), de que o Brasil estaria no caminho de "virar uma Venezuela" mediante a imposição de uma hegemonia política após a conquista do quarto mandato petista.
4) A contrariedade com uma suposta vinculação entre políticas sociais como o Bolsa Família e a obtenção de votos pelo governo federal, principalmente no Nordeste.
Os articuladores da mobilização no Estado tentam se desvincular dos gritos de guerra mais radicais a fim de não perder legitimidade e ganhar fôlego para futuras manifestações. Novos protestos contra Dilma Rousseff estão sendo programados para o dia 15 de novembro.
Para um dos responsáveis pelo movimento gaúcho, o advogado e candidato derrotado a deputado federal pelo PSDB Leudo Costa (obteve 2,8 mil votos), é minoritária e isolada a fração dos manifestantes que clama por intervenção militar 50 anos após um golpe que deixou marcas profundas no país.
- Sou de direita, mas sou conservador, entendo que as instituições têm de ficar sólidas. Não há nada de ilegal em pedir uma auditoria do resultado da eleição, mas lamber bota de general é demais - afirma Leudo, que defende o fim do direito a voto para quem recebe o Bolsa Família.
Outro responsável pelos rumos do movimento na Capital, o suplente de deputado estadual pelo PP Marcel Van Hattem, afirma que o pedido de impeachment de Dilma Rousseff não está na "pauta imediata" do movimento, mas pode se tornar "inevitável" conforme o rumo das investigações sobre os desvios na Petrobras.
- Nossa intenção é demonstrar oposição permanente a um governo que não representa todos os brasileiros - sustenta Van Hattem.
O cientista político Bruno Lima Rocha acredita que as vertentes mais radicais, favoráveis a uma intervenção militar, até o momento não demonstram força para se transformar em um movimento mais estruturado ou um novo partido de extrema-direita.
A direção nacional do PT já declarou que a orientação do partido é ignorar os protestos. Também declarou que considera "golpistas" cogitações sobre intervenção militar ou pedidos de impeachment poucos dias após o fim das eleições.