A comparação é inevitável: no mensalão, que levou a cúpula do PT para a cadeia, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha foi condenado por um saque mal explicado de R$ 50 mil. No mensalão, a origem pública do dinheiro não era clara. No assalto à Petrobras, praticado ao longo dos últimos anos, tudo é contabilizado em milhões e bilhões. De reais e de dólares. O tamanho da roubalheira pode ser estimado pelo valor que um personagem secundário do esquema se comprometeu a devolver para não ir para a cadeia.
Ex-gerente-executivo da Diretoria de Serviços da Petrobras, Pedro Barusco fechou acordo de delação premiada e se comprometeu a devolver cerca de US$ 100 milhões (sim, de dólares. Em reais, mais de R$ 260 milhões), além de contar o que sabe sobre o esquema de corrupção e propina na estatal. Barusco não era diretor, como Paulo Roberto Costa e Renato Duque, dois presos na Lava-Jato. Se topou devolver US$ 100 milhões, quanto não terá passado pela mão da quadrilha toda?
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Por alto, a Polícia Federal calcula que os desvios passam de R$ 10 bilhões. Para se ter uma ideia do que significa essa montanha de dinheiro, basta compará-la com o orçamento do Rio Grande do Sul: toda a receita prevista para este ano é de R$ 51 bilhões.
Primeiro a fazer o acordo de delação premiada, Paulo Roberto Costa se comprometeu a devolver R$ 70 milhões. E o resto? Como será devolvido o dinheiro que não está bloqueado na Suíça? Como se cobrará o que foi usado pelos partidos que estão no governo para financiar campanhas?
O presidente do Tribunal de Contas da União, João Augusto Nardes, sugere que as empreiteiras envolvidas em falcatruas não sejam declaradas inidôneas, para não parar o país, mas que se renegociem os contratos. A pergunta é: como fazer essa lipoaspiração nos negócios superfaturados?
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