
Não fosse pelo fato de ser irmão mais velho do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte (PP), o baiano Adarico Negromonte Filho, 70 anos, não ganharia notoriedade. Agora, virou assunto por dois motivos: o parentesco ilustre e também por ser o único foragido da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal (PF).
Até a Interpol está atrás dele, por suspeita de que tenha escapado para o Exterior. Sua advogada tenta, de forma paralela, revogar a prisão preventiva decretada pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba.
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Além de ser um dos 11 irmãos menos conhecidos do ex‑ministro, o que faz Adarico? Transporta dinheiro ilícito, dizem com todas as letras os policiais que desencadearam a Lava-Jato. Ele seria um dos quatro "mulas" (carregadores de mercadoria ilegal) usados pelo doleiro Alberto Youssef para entregas confidenciais.
Eles trabalhavam na GFD, uma das empresas criadas por Youssef para lavar dinheiro, com sede na Rua Paes de Barros, em São Paulo. No grupo de transportadores, estão Rafael Ângulo Lopez, o Véio (condenado no processo originado pela Operação Curaçao, da PF), e Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca (agente da PF, preso na Lava-Jato).
O baiano recebeu o apelido de Maringá por ter se envolvido há mais de década com Youssef, natural dessa cidade do Paraná. Quando o doleiro foi preso em São Luís (MA) com 34 telefones celulares, em março, os policiais encontraram mais de 30 mensagens dirigidas a Adarico.
A capital do Maranhão, aliás, é sede de outro caso envolvendo Adarico. Contadora de Youssef, Meire Bonfim da Silva Poza relatou à PF que o doleiro pagou propina ao governo maranhense. Conforme ela, a mando de duas construtoras, Youssef negociou o pagamento de R$ 6 milhões em suborno para que o Estado antecipasse um pagamento de cerca de R$ 120 milhões que beneficiava as empreiteiras.
O precatório era o quinto na ordem de liberação. Após a propina, as construtoras "furaram a fila", e o pagamento foi liberado parceladamente. O precatório se referia a um contrato na metade da década de 1980 para serviços de terraplenagem e pavimentação da BR-230. O valor se refere a 15% cobrados pelo doleiro. Quem teria intermediado o repasse do dinheiro, em espécie? Adarico. A governadora Roseana Sarney (PMDB) negou conhecê-lo, e o caso é investigado pela Lava-Jato.
Homem de confiança do doleiro Youssef, o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa, em depoimento, fala que Adarico atuava como "mula" internacional.
- Em determinada oportunidade, os dois (Adarico e Youssef) foram para o Peru levar dinheiro em espécie - disse.
PF examina passagem de Adarico por canoas
O irmão do ex-ministro também é o homem que teria carregado R$ 57 mil em cédulas, num voo desde São Paulo até Canoas, em 4 de dezembro de 2013. O dinheiro foi enviado pelo doleiro para a sede das construtoras Queiroz Galvão/OAS/Brasília, que construíram a Rodovia do Parque (BR-448). Mensagens confirmando o fato foram interceptadas pela PF, mas não se sabe por que o repasse foi feito em espécie. As empreiteiras negam saber do que se trata.
Na casa onde reside, em Registro (SP), Adarico não foi encontrado pela PF na sexta-feira. A advogada Joyce Roysen, responsável pela defesa do foragido, afirma que o cliente se entregará à PF na segunda ou terça-feira. À imprensa baiana, Mário Negromonte disse que o irmão mais velho é inocente "até que existam provas concretas que o culpem pelo envolvimento em atividade criminosa".
- Tenho 11 irmãos, amo a todos. O que puder fazer vou fazer. Agora, esse aí terá de mostrar que não cometeu nenhum crime e, se cometeu, vai ter que pagar. Mas estarei ao lado dele para dar apoio moral - afirmou.
Mário, ministro do governo Dilma entre 2010 e 2012, deixou a Esplanada após ser acusado por correligionários de comprar apoio de deputados do partido para manter o controle interno da legenda. Depois da exoneração, Mário voltou a exercer mandato de deputado federal. Em junho deste ano, o ex-ministro tomou posse como conselheiro do Tribunal de Contas da Bahia.
O que aponta o inquérito
A origem na Bahia: Adarico Negromonte é o irmão mais velho do ex-ministro Mário Negromonte (PP). Nascido na Bahia, tem residência em Registro (SP). Como a PF não o encontrou na sexta-feira, é considerado foragido.
A relação com Youssef: há anos, Adarico é ligado a Alberto Youssef - tanto que chegou a receber o apelido de Maringá, cidade em que o doleiro nasceu. O baiano, diz o inquérito (imagem acima), atuaria como carregador de dinheiro.
O pagamento no Maranhão: segundo relato da contadora do doleiro, Adarico teria intermediado o repasse de propina ao governo de Roseana Sarney (PMDB), no Maranhão, em troca da liberação de pagamento para empreiteiras.
Na linha do tempo, veja os fatos que marcaram a Lava-Jato: