
Funcionária do médico Leandro Boldrini - acusado pela morte do filho Bernardo - por mais de seis anos, a técnica em enfermagem Marlise Cecília Renz foi a terceira das testemunhas convocadas pela defesa dos réus a ser ouvida na manhã desta quarta-feira. Durante a sessão, a mulher relatou o que o pai do menino teria dito em um episódio:
- O sonho da minha vida é ver o meu filho se formar médico.
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A frase resume o relato da técnica sobre a relação de Leandro Boldrini com o filho: amorosa, garante ela, contrariando os indícios de que o pai negligenciava os cuidados com a criança. Segundo Marlise, a madrasta Graciele Ugulini teria respondido à fala do marido:
- Teu filho nunca vai ser médico, mas a minha filha eu juro que vai.
Conforme o relato da testemunha, Leandro era contrário às posições de Graciele sobre, por exemplo, o menino não ter a chave da casa da família em Três Passos. A testemunha relatou que a relação do casal se deteriorou após o nascimento da filha, Maria Valentina, e que, nas vezes em que avistou Bernardo, ele estava bem-vestido e não aparentava reações agressivas.
Segundo afirmação de pessoas próximas à família, porém, Leandro tratava o filho com frieza, não frequentava os eventos escolares, e o menino andava pela cidade malvestido.
Marlise auxiliava Leandro nos exames de endoscopia e foi quem percebeu a ausência, na sala, do calmante Midazolam - droga encontrada pela perícia no corpo do menino. Ela teria dito a Graciele sobre o sumiço, que teria afirmado:
- Vamos ter de colocar um cadeado neste armário.
No depoimento, Marlise ainda disse que a secretária de Leandro lhe contou ter ouvido de Graciele que iria "contratar matadores de aluguel para matar o menino", mas não soube informar se a mulher contou o episódio ao patrão. A ex-funcionária garantiu não manter uma relação de amizade com o médico, mas teria afirmado a Leandro que a madrasta e Bernardo não poderiam mais conviver na mesma casa. O pai do menino inclusive contou à técnica em enfermagem sobre a audiência de conciliação realizada no Fórum da cidade entre pai e filho.
- A coisa foi complicada. Passei muita vergonha - teria afirmado o médico após o episódio.
Também foram ouvidos nesta manhã o agente penitenciário de Três Passos Jorge Turra, a professora Ivete Ursulina Hermann, que passou por uma cirurgia feita por Leandro, e a ex-babá de Bernardo, Elaine Roder Pinto - a quem o menino contou a tentativa de asfixia por parte de Graciele.
Elaine foi intimada duas vezes pela Polícia Civil. Na primeira ocasião, não relatou a agressão sofrida pelo menino porque "acreditava que ele estivesse vivo e temia represálias". No depoimento, a ex-babá reiterou que o garoto andava mal vestido e mal alimentado pela cidade, e que, em uma ocasião, o encontrou do lado de fora do portão da casa da família.
- O Bernardo disse que só podia entrar na casa quando o pai estava - contou.
A única pessoa a quem Elaine relatou a tentativa de asfixia foi a avó do menino, Jussara Uglione. A ex-babá falou que não se sentia com intimidade suficiente para informar Leandro sobre o episódio.
Nas audiências desta quarta e quinta-feira, estavam previstos os depoimentos de 24 testemunhas de defesa - duas convocadas pelo advogado de Graciele e 22 pelos de Leandro. Porém, pelo menos cinco já foram liberadas. Também são réus no processo da morte do menino, ocorrida em abril deste ano, a assistente social Edelvânia Wirganovicz e o irmão, Evandro, que são acusados de participarem do crime. Todos estão presos.
Antes do começo da audiência, um grupo de cerca de 20 pessoas realizou um protesto pedindo justiça em frente ao prédio do fórum. Após espalharem cartazes, rezaram o Pai Nosso e finalizaram com uma salva de palmas.
A casa onde o menino morava amanheceu tomada de homenagens
Foto: Mauro Vieira

Como teria ocorrido o crime: