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O leite fraudado que foi alvo da sétima fase da Operação Leite Compen$ado, deflagrada na manhã desta quarta-feira, no norte no Estado, chegou ao menos a indústrias do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná. A adulteração investigada pelo Ministério Público Estadual (MPE) consistia na adição de água para aumentar o volume do produto e de sal para mascarar a diluição.
Segundo o MPE, no Estado, o posto de resfriamento da Cotrel, em Erechim, vendeu leite para a Nestlé, em Palmeira das Missões, e para a Cootal, de Taquara. Em Santa Catarina, o produto foi remetido para a unidade de Pinhalzinho da Aurora e para a Kerlac, de Rio Fortuna. No Paraná, o leite fraudado foi comercializado com o laticínio HE, de Coronel Vivida. Há ainda referência a uma empresa chamada Laticínios Ipê, que também seria paranaense, mas não existe certeza quanto à cidade da indústria.
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O outro posto de resfriamento envolvido, a Rempel & Coghetto Ltda, em Jacutinga, vendia mais de 90% do leite para a unidade de Teutônia da BRF. Responsável pelas investigações na área criminal, o promotor Mauro Rockenbach viu posturas diferentes nas empresas.
- A Nestlé rejeitou quatro cargas da Cotrel na semana passada. A BRF nunca rejeitou carregamento - diz Rockenbach, lembrando que a investigação ocorria há dois meses.
De acordo com o promotor de defesa do consumidor Alcindo Bastos Filho, o Ministério da Agricultura vai agora questionar as indústrias sobre o destino que deram ao leite fraudado. A intenção é saber se o produto foi rejeitado ou processado e colocado no mercado. Mas, como as substâncias usadas na fraude não fariam mal à saúde, não deve haver recolhimento de lotes.
Devido às irregularidades, a unidade da Cotrel será submetida a um regime especial de fiscalização, mas não será fechada. O posto de Jacutinga foi interditado. Por enquanto, não há estimativa do volume de leite fraudado.
Até o início da tarde desta quarta-feira, o MPE confirmou o cumprimento de 16 dos 17 mandados de prisão. Uma pessoa continuava foragida. Além de Erechim e Jacutinga, a operação ocorreu em Maximiliano de Almeida, Gaurama, Viadutos e Machadinho. Estão envolvidos produtores, transportadores, responsáveis por postos de resfriamento, laboratoristas e motoristas de caminhões.
Entenda como funcionava a fraude:
Contrapontos
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Andresa Segatt e Elizete Marli Bessegato, dos postos de resfriamento Rempel & Coghetto Ltda
O advogado das laboratoristas Andresa Segatt e Elizete Marli Bessegato, Ramiro Kunze, disse que as duas desconhecem as acusações. Andresa alega ainda que não trabalha na empresa há um mês.
Aurora Alimentos
Por meio de nota divulgada pela assessoria de imprensa, a Aurora Alimentos afirmou que condena e repudia a adulteração de leite fornecido para processamento industrial ou diretamente para consumo humano conforme constatado pela investigação. A empresa ainda disse que assegura aos clientes e consumidores que não industrializou leite adulterado porque realiza testes laboratoriais de qualidade em toda matéria-prima láctea apresentada pelos seus fornecedores. Devido às conclusões do Ministério Público, a empresa decidiu suspender o recebimento de leite da cooperativa filiada Cotrel até que sejam apuradas todas as responsabilidades civis e criminais e convocou uma reunião extraordinária das indústrias lácteas juntamente com entidades do setor, Ministério da Agricultura e Secretaria de Agricultura para analisar a questão e adotar medidas que incorporem toda a cadeia produtiva na busca de instrumentos que evitem a prática de delitos.
Cotrel
"Estamos nos inteirando dos fatos. A cooperativa entende que vem cumprindo a legislação e fazendo todos os testes e análises necessários. Vamos analisar as provas que estiverem nos autos".
Nasser Khalaf, advogado da Cotrel
BRF
Em nota, a BRF esclareceu que cancelou o contrato com o posto de resfriamento da Rempel & Coghetto, situado em Jacutinga, e que entrará com as medidas judiciais cabíveis contra o fornecedor. A empresa ainda afirmou que irá apoiar o Ministério Público na apuração de responsabilidade pela fraude de todas as partes envolvidas e que, como medida preventiva, suspendeu a compra da carga das transportadoras envolvidas na denúncia até que a questão seja esclarecida. A BRF ainda disse que o problema ocorrido não oferece qualquer risco para a saúde e que reitera seu compromisso com o consumidor.
Cootall
O diretor-presidente da Cooperativa Taquarense de Laticínios (Cootall), Claudio Gonzaga, afirmou que a empresa está se inteirando do caso e que nesta quinta-feira deve divulgar uma nota oficial.
HE Indústria e Comércio de Laticínios
O diretor da HE Laticínios Edson Desconsi afirmou que a empresa adquire o leite resfriado da Cotrel há anos e se disse surpreso com o envolvimento do posto de resfriamento na suposta fraude do leite. Desconsi reitera que a empresa realiza controle rígido de qualidade por meio de exames exigidos e ainda de outros adicionais quanto a possíveis fraudes e que, até então, não havia sido detectada adulteração. O diretor afirma que a HE seguirá comprando o leite da Cotral por crer se tratar de um posto que garante a segurança alimentar. Ele ainda acrescentou que uma carga da Cotrel saída do Rio Grande do Sul em 24 de novembro foi condenada pelo laboratório da indústria devido à acidez e prontamente descartada.
Kerlac
O diretor da Kerlac, Erikson Wiggers, disse que a empresa realiza todas as análises requisitadas e que não foram constatadas irregularidades na carga comprada do posto de resfriamento referido. Wiggers ainda acrescentou que todos os boletins de análise estão armazenados na empresa e à disposição do Ministério da Agricultura.
Nestlé
Em nota, a Nestlé informou que garante a qualidade de todos os produtos que fabrica devido a rigoroso controle de qualidade aplicado a todas as matérias-primas utilizadas na fabricação. Em relação ao leite fresco que adquire, a Nestlé ainda afirma que se vale de rigorosas análises laboratoriais e que realiza diretamente nos seus postos de coleta de leite. Segundo a Nestlé, qualquer irregularidade na matéria-prima fornecida acarreta a imediata rejeição e devolução. Assim, a companhia assegura que todos os ingredientes utilizados na fabricação de seus produtos possuem alto nível de qualidade.
Zero Hora está tentando contato com outras empresas envolvidas na operação.
Sete fases da Operação Leite Compen$ado
Desde maio do ano passado, 37 pessoas foram presas e 43 denunciadas por adulteração de produto alimentício.
Sete pessoas foram condenadas nas comarcas de Ibirubá e Horizontina, com penas que variam entre dois e 18 anos de prisão em regime fechado. Veja quem são os condenados: * Zero Hora
João Cristiano Pranke Marx, 18 anos e 6 meses de reclusão (regime fechado)
Daniel Riet Villanova, 11 anos e 7 meses de reclusão (regime fechado)
Larri Lauri Jappe, 10 anos (regime fechado)
Angélica Caponi Marx, 9 anos e 7 meses de reclusão (regime fechado)
João Irio Marx, 9 anos e 7 meses de reclusão (regime fechado)
Alexandre Caponi, 9 anos, 3 meses e 12 dias de reclusão (regime fechado)
Paulo César Chiesa, 2 anos e 1 mês de reclusão (regime semiaberto)
As ações civis coletivas de consumo contra as pessoas físicas e jurídicas envolvidas na fraude já contabilizam 117 bens indisponibilizados, sendo 90 veículos e 27 imóveis, avaliados em aproximadamente R$ 10 milhões.