
As reclamações de passageiros sobre o voo 203 da American Airlines que teve de voltar a Porto Alegre 45 minutos depois de decolar rumo a Miami (EUA), nesta terça-feira, começaram na viagem anterior, quando ele veio da Flórida para o Brasil. Durante 15 horas, os passageiros ficaram aguardando pela decolagem - marcada para as 9h45min de segunda-feira -, em meio a trocas de tripulantes da aeronave. A jornalista Viviane Bertol relatou a confusão:
- O avião estava na pista de decolagem e teve de voltar para o embarque duas vezes. O comandante do voo pediu para substituírem a aeronave e foi negado. Depois trocaram o piloto e novamente, antes de partirmos, houve outra troca de tripulação. No total, foram três pilotos até finalmente voarmos para Curitiba e depois para Porto Alegre. Foram horas de espera e medo. Teve gente chorando. Foi um pesadelo - contou por telefone, enquanto se deslocava do aeroporto Salgado Filho para a sua cidade, São Gabriel.
A partida de Miami atrasou e causou efeito cascata na rota para Curitiba e, na sequência, para Porto Alegre. A saída da capital paranaense era para ter ocorrido às 22h40min de segunda-feira, mas se deu somente ao meio-dia desta terça-feira. De Porto Alegre, originalmente sairia à 1h20min desta terça, mas, após várias remarcações de horário, decolou próximo das 15h para retornar às 15h50min ao Salgado Filho, devido a problemas de manutenção não detalhados pela companhia aérea.
Um dos passageiros, o médico de Curitiba Maikel Comazzetto, disse que todo o planejamento de três meses da família se estragou. No final da tarde, eles ainda não haviam obtido informações da Infraero nem da American Airlines sobre se poderiam embarcar em um novo voo.
A encarregada de produção Juliana Garcia da Silva, 28 anos, viajaria para Miami com a irmã Vanessa, 14 anos. Seria uma viagem em comemoração aos 15 anos de Vanessa, que se completarão em fevereiro. Perderam o primeiro dia na cidade norte-americana, o que inclui R$ 600 em um hotel, um passeio no Magic Kingdom da Disney e um almoço no restaurante da Cinderela que valia R$ 300. Juliana contou o que sentiu dentro do avião quando ele aterrissou, carregado do combustível que gastaria ao longo do percurso e que pesou na hora da aterrissagem:
- A sensação na volta foi de que a velocidade era muito alta. Parecia que estávamos sendo sugados a vácuo, achamos que não ia parar nunca. Fomos até o fim da pista, e lá já estavam os caminhões de bombeiro tocando água no piso.
Ariane Stahelin, 29 anos, viajaria com o marido, a filha de seis meses, o filho de cinco anos, dois irmãos e três sobrinhas. Passariam o Natal em Miami e depois seguiriam para Orlando para ficar até o Ano-Novo. A família recebeu um jantar improvisado na noite de segunda-feira, um café da manhã também de improviso nesta terça e não ganharam almoço.
- O que todo mundo passou, eu passei com um bebê no colo - lamentou Ariane, que reagendou o voo para Guarulhos (SP).
Ariane: "O que todo mundo passou, eu passei com um bebê no colo"
Foto: Bruna Scirea
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Em nota, a empresa apontou ter havido um problema de manutenção em Porto Alegre, e não abordou as falhas ocorridas já em Miami. No início da noite desta terça-feira, a American Airlines garantiu hospedagem para alguns passageiros do voo 203. Outra parte conseguiu lugar no voo seguinte da companhia para Miami, no início da madrugada de quarta-feira. Por fim, a mudança de roteiro foi a alternativa para um terceiro grupo, que partiu em direção a São Paulo ou Argentina para, desses locais, tomar o rumo da Flórida.
Contatada por Zero Hora, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) respondeu por e-mail que "foi informada do ocorrido e está monitorando por meio de inspetores a assistência aos passageiros prestada pela empresa, além de acompanhar os relatórios sobre as manutenções realizadas na aeronave, para que ela volte às operações mantendo o padrão de segurança operacional internacional". Apesar de dizer que estava acompanhando a situação, por volta das 20h, a sala da Anac no aeroporto estava trancada, enquanto dezenas de passageiros ainda aguardavam pela resolução do impasse. Atendentes do balcão de informações da Infraero também tentaram contato com funcionários da agência, mas não tiveram resposta.
Quanto a "questões envolvendo a renovação da frota da empresa devem ser encaminhadas à própria empresa e à FAA", completou a Anac, referindo-se à Federal Aviation Administration (FAA), a agência reguladora dos EUA responsável pela certificação das companhias aéreas.
Os problemas no voo 203 repercutiram nas redes sociais, nas quais internautas relataram que as dificuldades são constantes na rota. Em janeiro deste ano, o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, já havia postado reclamação semelhante no Twitter.
A American Airlines divulgou uma nota oficial sobre o ocorrido. Confira abaixo:
O voo American Airlines 203 de Porto Alegre para Miami, operado por um Boeing 767-300 com 185 passageiros e 11 tripulantes, retornou para Porto Alegre após a decolagem devido a um problema de manutenção. O voo pousou às 15h50 (horário local) e está sendo analisado pela equipe de manutenção. A companhia lamenta o ocorrido e os transtornos causados aos passageiros, mas a segurança é a nossa prioridade.
Avião da American Airlines na pista do Salgado Filho, minutos depois de tentar voar para Miami
Foto: Carlos Macedo
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