Rosane de Oliveira
Há dois anos passei uma semana em Cuba, fazendo a cobertura da viagem do governador Tarso Genro. Além da agenda oficial, que incluiu uma visita à sede do Partido Comunista Cubano, na lendária Praça da Revolução, tirei um dia para circular pelas ruas da empobrecida Havana, conversar com pessoas do povo e tentar identificar o que mudara desde a minha primeira visita, em 2000, no auge da crise que se seguiu ao desmantelamento da União Soviética.
As marcas dos 50 anos de embargo estavam por toda parte: na deterioração da maioria dos prédios, que não recebe pintura ou manutenção, na frota de carros antigos, que remanesce nas ruas e na pobreza que obriga Cuba a exportar médicos e enfermeiros.
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A principal diferença no cenário de 12 anos antes era a redução da miséria, garantida pelo turismo, pela ajuda da Venezuela e pelas negociações com países que se recusaram a aceitar o embargo imposto pelos Estados Unidos, como Brasil, Espanha e China. Aqui e ali, percebiam-se os primeiros sinais de uma abertura econômica que permitiu aos cubanos a abrir pequenos negócios em mais de uma centena de atividades até então exploradas exclusivamente pelo Estado.
Dois pontos a agenda cumprida por Tarso em Cuba ilustram essa mudança: a inauguração de uma loja de sapatos, em que as estrelas da vitrine eram os Calçados Picaddilly, de Igrejinha, e uma visita ao Porto de Mariel, construído pela Odebrecht e financiado pelo BNDES, alvo de duras críticas da oposição brasileira. Principal sinal de que os ventos da mudança estavam chegando à ilha comunista foi a escolha de uma empresa de Cingapura para administrar o Porto de Mariel.
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Essa perspectiva de abertura, que deve se ampliar com a normalização das relações diplomáticas com os Estados Unidos, primeiro passo para o fim do embargo, estava na lógica da visita de Tarso e de uma comitiva de empresários gaúchos.
- Um dia isso aqui vai se abrir. Quem chegar primeiro vai beber água limpa - profetizou o presidente da Fiergs, Heitor Müller.
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Tarso estava convencido de que cedo ou tarde o regime comunista se abriria para o mundo e, assim como o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff, entendia que as boas relações com o regime comandado pelos irmãos Castro daria algum tipo de privilégio a quem emprestou solidariedade à ilha e ajudou os cubanos a enfrentarem o embargo americano. As autoridades cubanas não cansavam de expressar gratidão pelo apoio.
Nesta quarta-feira, Tarso celebrou "a decisão corajosa do presidente Barack Obama, que vai ajudar a economia cubana a crescer". Tarso contou que, antes de viajar para Cuba, em 2012, recebeu de um membro do comitê central do Partido Comunista a informação de que Obama prometera rever as relações com a ilha, assim que passasse a eleição. Por coincidência, Obama foi reeleito no dia em que Tarso encerrou a visita a Havana.
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Dos dirigentes do PC com quem conversou, Tarso ouviu que era crescente a convicção de que Cuba precisava sair do isolamento e que o presidente Raúl Castro voltou de uma visita à China entusiasmado com o progresso do país, que abriu a economia para o mundo, mas sem alterar o regime político.
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