Dois anos e sete meses de trabalho da Comissão da Verdade produziram um resultado frustrante para quem esperava preencher as lacunas ainda abertas na história da ditadura militar no Brasil.
Pouco se avançou em relação ao livro Brasil Nunca Mais, que apresentou aos brasileiros o retrato mais nítido do que aconteceu nos Anos de Chumbo. Quase tudo o que a comissão apurou já era conhecido, seja pelo trabalho da imprensa, seja pela ação das organizações de direitos humanos.
Um dos principais mistérios desvendados no período de atuação da comissão, o destino do ex-deputado Rubens Paiva, foi produto de investigação jornalística e rendeu o Prêmio Esso aos repórteres José Luis Costa, Nilson Mariano e Humberto Trezzi, de Zero Hora.
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José Luis esbarrou nos documentos secretos de um coronel morto em assalto no bairro Três Figueiras e puxou o fio da meada que levaria ao esclarecimento do sumiço de Paiva e a detalhes do atentado ao Riocentro.
Membros da comissão saíram frustrados por só conseguir localizar os corpos de três desaparecidos e porque as Forças Armadas não colaboraram. Aqui e ali um protagonista deu depoimentos reveladores dos métodos, mas a maioria dos torturadores calou-se.
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O resultado fraco em relação ao que se esperava não significa que o trabalho foi inútil. Pelo contrário. Seu grande mérito é organizar o material disponível, reavivar a memória do país sobre as atrocidades cometidas em nome do combate ao terrorismo/comunismo e apresentar às novas gerações um pedaço da História que estava encoberto pela poeira do tempo.
Que o trabalho da comissão sirva para mostrar aos que flertam com a ditadura que aquele foi um período obscuro, com tortura, mortes, desaparecimentos, censura e supressão das liberdades individuais.
Quem tem saudade disso ou despreza a democracia por ignorância em relação ao que se passou nos Anos de Chumbo deveria ler o material produzido e ouvir os depoimentos das vítimas de tortura ou de pais e mães que perderam seus filhos e não puderam sequer enterrá-los para elaborar o luto.