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Violência em Tramandaí

Policial que assessorava secretário depõe e nega envolvimento com traficante

Criminoso foi morto com um tiro de fuzil por uma quadrilha rival no domingo

Humberto Trezzi / Brasília

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Caco Konzen / Especial
Nilson Aneli é investigado por suposta ligação com traficante

Durou pouco mais de uma hora o segundo depoimento prestado pelo policial civil Nilson Aneli nas investigações que apuram seu relacionamento com o traficante  Alexandre Goulart Madeira, o Xandi. O criminoso foi morto com um tiro de fuzil por uma quadrilha rival no domingo, em Tramandaí.

Depoimentos de comparsas de Xandi indicam que ele estava acompanhado do comissário Aneli, da Polícia Civil, quando foi assassinado. Veterano, com 33 anos de carreira e professor na Academia da Polícia Civil, Aneli era lotado, até a semana passada, no gabinete do então secretário da Segurança Pública do Rio Grande do Sul, Airton Michels.

Ligado à facção criminosa Os Manos, Xandi, 35 anos, era considerado um dos "patrões" do tráfico na Região Metropolitana. Controlava o Condomínio Residencial Princesa Isabel, distante duas quadras do Palácio da Polícia Civil, na Capital, e também bocas de fumo em Canoas. Ele teria sido jurado de morte por traficantes rivais da Vila Tamanca e do Beco dos Cafunchos, no bairro Agronomia, na zona leste da Capital.

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Eles teriam oferecido inclusive R$ 200 mil para quem o matasse. O assassinato aconteceu quando quatro homens, num Corsa, estacionaram em frente à casa alugada pelo criminoso em Tramandaí e dispararam rajadas de fuzil, acertando Xandi na cabeça. Ele morreu na hora.

E qual a relação de Xandi com o policial civil Aneli?

Nenhuma, assegurou Aneli em dois depoimentos. O primeiro, prestado no domingo na Delegacia de Polícia Civil de Tramandaí, logo após o assassinato de Xandi. Aneli foi identificado por testemunhas como um dos homens que saiu em defesa de Xandi, atirando, quando este foi mortalmente atingido pelos rivais do tráfico. O policial civil negou isso, tanto na primeira vez em que depôs quanto no testemunho prestado hoje, na sede da Corregedoria da Polícia Civil, na Rua Osvaldo Aranha, em Porto Alegre.

Na Corregedoria, Aneli manteve a versão dada domingo e que ele repetiu hoje a Zero Hora, logo após prestar depoimento.

- Eu estava em Tramandaí e fui avisado de que um sobrinho tinha sido baleado, na casa do traficante Xandi. Não conheço o Xandi, só fui prestar ajuda ao meu familiar, que foi baleado nas costas e corre risco de morte.

Aneli compareceu na Corregedoria acompanhado de um advogado e prefere não detalhar o ocorrido.

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A versão apresentada pelo policial civil, porém, colide com três depoimentos prestados em Tramandaí por pessoas que se encontravam na casa alugada por Xandi. Três homens que trabalhavam na produtora de funk do traficante, a Nível A (especializada em bailes e lançamento de artistas do gênero), dizem que Aneli era o segurança de Xandi. Teria sido contratado não apenas para dar proteção nas festas organizadas pelo grupo, mas também para defesa pessoal do traficante.

Os três depoentes estão presos, junto com outros cinco (ao todo, foram presos sete homens e uma mulher). As oito prisões preventivas foram decretadas porque a Polícia Civil encontrou drogas, cinco pistolas e farta munição com o grupo. A polícia apreendeu ainda na casa um Land Rover Evoc, um Cerato, uma Captiva e uma van Mercedes-Benz. Outros depoimentos também falam que Aneli estava na casa na hora do tiroteio.

O policial, que tinha sido cedido para trabalhar no Ministério Público (a ideia era aproveitá-lo num grupo de combate a crime organizado), foi liberado após os depoimentos, mas teve anulada sua cedência e terá de voltar à Polícia Civil, num cargo ainda não definido.



Comissário afirma que chegou ao local minutos depois do homicídio
Foto: Divulgação

Quem é o Comissário Nilson Aneli

Ingressou na Polícia Civil em março de 1982. Formado em Direito na PUCRS, foi professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC - 2006/2007). Na Polícia Civil ocupou os seguintes cargos: agente policial DP Charqueadas, agente do Grupamento de Operações Especiais e da Equipe de Adestramento do GOE, Chefe do Plantão do GOE, Chefe da Equipe de Adestramento, Supervisor do GOE, Chefe do GOE, Docente da ACADEPOL, Chefe da Força Tarefa ao combate a assalto a banco pelo DPM e DPI, Agente do DAE/ACADEPOL, Chefe do SEPLAN/ACADEPOL, Coordenador do Curso de Ações Básicas do Uso da Força e da Arma de Fogo, Coordenador da Defesa Pessoal do Curso para Agentes da Guarda Municipal e assessor especial do Secretário da Segurança Pública, Airton Michels.

* Zero Hora

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