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Um ano após o início da crise hídrica paulista, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) começou a informar, na última segunda-feira, os horários em que cada imóvel da Grande São Paulo é afetado pela redução da pressão da água na rede.
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Um levantamento feito pelo jornal O Estado de São Paulo em 20 endereços constatou que a restrição no fornecimento é feita diariamente, começa quase sempre a partir das 13 horas e pode durar até 18 horas. A empresa alega que a medida não caracteriza "racionamento sistêmico".
A redução da pressão é feita pela Sabesp desde 1997 para reduzir as perdas por vazamentos, mas foi intensificada após a seca no Cantareira, provocando cortes no abastecimento de água, inicialmente à noite e em regiões mais altas. Responsável por 60% de toda a economia de água obtida durante a crise, a medida, porém, nunca havia sido divulgada pela companhia, até a reportagem revelar a prática, em abril do ano passado.
A divulgação dos locais e horários em que há redução só foi feita agora por determinação da Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo (Arsesp), quando autorizou a Sabesp a cobrar sobretaxa de até 100% na tarifa de água para quem aumentar o consumo. O presidente da companhia, Jerson Kelman, já havia dito há duas semanas que intensificaria a medida para economizar mais água e isso poderia causar "sofrimento à população".
Por telefone, a Sabesp afirma que para que a medida "cause o menor transtorno na rotina, tenha no imóvel reservação de água adequada ao consumo dos usuários por 24 horas e verifique se as instalações internas estão ligadas à caixa dágua e não diretamente à rede da rua".
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A falta de água que atinge as Regiões Metropolitanas de São Paulo e de Campinas vai afetar o ritmo de produção da indústria, a produtividade e o Produto Interno Bruto (PIB) industrial do Estado de São Paulo. Já existem empresas planejando férias coletivas e redução de turnos de trabalho para contornar a crise hídrica. A avaliação é do vice-presidente da Federação das indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e diretor de Meio Ambiente, Nelson Pereira dos Reis.
Existem nessas duas regiões cerca de 60 mil indústrias que respondem por 60% do PIB industrial paulista.
- A preocupação é grande. Não esperávamos uma seca com essa intensidade - diz Reis.
Ele ressalta que o impacto econômico ficou claro a partir da última quinta-feira, quando a Agência Nacional de àguas (ANA) e o Departamento àguas e Energia Elétrica (DAEE) publicaram uma resolução conjunta que determina que as indústrias que captam água diretamente da bacias dos Rios Jaguari, Camanducaia e Atibaia reduzam em 30% o consumo diário quando o volume útil dos reservatórios do Sistema Cantareira estiver abaixo de 5%, sob pena de multa. Hoje esse limite foi ultrapassado, isto é, já está sendo usada a reserva estratégica de água ou o chamado "volume morto".
- Isso vai significar uma freada muito grande na economia da região no primeiro trimestre - diz o vice-presidente da Fiesp, explicando que ainda não é possível quantificar o impacto. Ele observa que a situação é muito preocupante porque hoje, em plena estação das águas, o quadro de abastecimento é crítico. E a perspectiva é piorar com o início do período da seca, que começa em abril.
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