Antes tarde do que nunca, os ministérios da Saúde e da Justiça anunciaram ontem um pacote de medidas para ampliar a segurança na comercialização de próteses, órteses e materiais especiais, e a estruturação de um plano para prevenção de irregularidades. Foi preciso que o repórter Giovani Grizotti escancarasse no Fantástico os métodos de atuação da máfia das próteses para o governo adotar medidas destinadas a estancar mais essa sangria no Sistema Único de Saúde (SUS).
Não é de hoje que se fala abertamente da existência de uma máfia, integrada por médicos, advogados e fornecedores de próteses e órteses. No Rio Grande do Sul mesmo, já houve investigação, com julgamento e condenação dos envolvidos, mas o esquema não se abalou. Ao contrário, são consistentes os indícios de que floresceu nos últimos anos, agindo tão às claras, que Grizotti conseguiu "negociar" com fornecedores em um congresso, passando-se por médico.
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A autópsia dessa fraude explica por que falta dinheiro para o SUS. Recursos que deveriam ser usados no atendimento da população acabam desviados para a conta de pessoas inescrupulosas.
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Esta é apenas a ponta do iceberg. Médicos honestos sugerem que a Polícia Federal e o Ministério Público investiguem também outros ramos da medicina, além da ortopedia e da traumatologia, para verificar se o que está sendo pago pelo SUS é o valor correto e se as cirurgias são, de fato, necessárias. Outro item que está a merecer atenção da Polícia Federal e do Ministério Público é a indústria de ações judiciais para fornecimento de remédios caros e de eficácia não comprovada.
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A fraude não atinge apenas o sistema público de saúde. Presidente da Federação Unimed/RS, o médico Nilson Luiz May se debate há uma década contra a máfia das próteses e diz que "o lucro fácil seduziu inclusive alguns maus colegas, já devidamente identificados, e contaminou toda a cadeia produtiva da saúde". Ou seja, se uma cooperativa de médicos estava sendo lesadas por profissionais associados, pode-se imaginar o que a máfia fez - ou tentou fazer - contra o SUS, o IPE Saúde e operadores de planos de saúde privados.
Opinião
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Colunista é a titular da Política+
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