Caio Cigana
Estado que carrega no nome uma alusão à fartura de água e tem como padroeiro o santo consagrado guardião da chuva, o Rio Grande do Sul assiste ao drama do Sudeste com uma ponta de alívio. Depois da forte seca do verão 2011/2012, que levou cidades ao racionamento, dizimou lavouras e fez a economia encolher, são três anos seguidos de precipitações generosas, com plantações viçosas, rebanhos sem sede e despreocupação na hora de tomar banho ou lavar louça. Nem o gosto ruim que saía das torneiras, recorrente em períodos de nível mais baixo do Guaíba, tem atormentado os porto-alegrenses.
A aparente bonança, porém, camufla um perigo sempre à espreita. Acostumado a secas nos meses mais quentes, exatamente quando o consumo cresce nas cidades e no campo, o Rio Grande do Sul tem, conforme a Agência Nacional de Águas (ANA), o segundo maior desequilíbrio crônico entre oferta e uso de recursos hídricos do país, só atrás do semiárido nordestino.
- Se São Paulo está em alerta vermelho, no Estado estamos em um eterno alerta amarelo - afirma Carlos André Bulhões Mendes, vice-diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS.
Leia todas as notícias sobre a Crise da Água
Com uma precipitação média de 1,4 mil milímetros por ano, o calcanhar de aquiles gaúcho não é exatamente a falta de chuva, sustenta o especialista. Para Mendes, assim como o Brasil, o Estado sofre com "secas administrativas", fruto da imprevidência no planejamento e da falta de parcimônia no uso da água por indústrias, população e lavouras de arroz, irrigadas por inundação, além do alto percentual de perdas na distribuição por problemas na rede e da poluição de rios que suprem a Região Metropolitana.
Enquanto a Grande São Paulo é abastecida por um complexo sistema de represas que vêm secando nos últimos anos, no maior aglomerado urbano do Rio Grande do Sul a configuração é diferente. A Capital tem o Guaíba como fonte, que nenhum especialista cogita secar. A fragilidade é maior em cidades próximas que captam em rios como Sinos e Gravataí, dois dos 10 mais sujos do país.
- O problema que se vê em São Paulo agora ocorreu conosco em 2005. O rio secou - compara o presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Gravataí, Paulo Robinson Samuel.