Notas dissonantes entre Washington e Berlim sugerem que a crise na Ucrânia produziu fissuras entre os parceiros atlânticos. De surpresa, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, propuseram ao presidente russo, Vladimir Putin, um acordo capaz de deter a escalada guerreira no país do Leste europeu. A proposta europeia inclui uma linha de cessar-fogo que sacramenta os ganhos territoriais dos separatistas pró-Moscou e um arranjo político no qual as regiões de Donetsk e Lugansk, pelas quais Kiev já se desobrigou, desfrutarão de grau considerável de autonomia.
O movimento de Merkel e Hollande ocorreu depois que o secretário de Estado americano, John Kerry, desembarcou em Kiev e cogitou o fornecimento de armamento defensivo aos ucranianos. Em seguida, a imprensa americana informou que a Casa Branca estaria cogitando até mesmo a entrega de armas letais a fim de que Kiev pudesse fazer frente à agressão. O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, praticamente emendou a reunião com Kerry ao encontro com a dupla franco-alemã. No dia seguinte, Merkel e Hollande viajaram a Moscou para apresentar pessoalmente a proposta a Putin. De volta a Berlim, a chanceler descartou com veemência a ideia de injetar mais armas na Ucrânia, mesmo que aos cuidados de Kiev.
A pressa de Merkel e Hollande tem uma explicação simples. Os líderes europeus não estão dispostos a manter o jogo das sanções contra a Rússia. Todos sabem que não existe hipótese de a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) intervir na Ucrânia. O único substitutivo à intervenção armada são as sanções. Mas esfriar relações econômicas com Moscou afeta tanto russos quanto europeus, num momento delicado para o euro. Com a validade da primeira rodada de sanções perto do fim, em abril próximo, fica evidente o interesse de Berlim e Paris em normalizar a situação.
Se as conversações progredirem, uma cúpula deve ocorrer na quarta-feira, em Minsk. Se o presidente russo aceitar o que lhe foi proposto, terá tido uma vitória inimaginável há um ano - e ficará a um passo de anexar outra fatia do território ucraniano.
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Luiz Antônio Araujo: por que Merkel tem pressa
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