Pai e filho, sócios de um escritório de contabilidade em Caxias do Sul, são os principais suspeitos de uma fraude que chega a pelo menos R$ 10 milhões. Os dois, de 61 e 37 anos, foram presos temporariamente ontem durante operação da Polícia Federal e Receita Federal.
As investigações apontam que eles, proprietários da Frigeri Contabilidade e Assessoria, no bairro Rio Branco, desviavam recursos de uma empresa metalúrgica de Caxias destinados ao pagamento de tributos federais. Guias de pagamento eram fraudadas e, ao pagar as guias, ao invés do tributo ser recolhido pela receita federal, ele caía em contas em paraíso fiscal de um dos suspeitos.
Há três meses, o escritório começou a ser investigado após denúncia da própria empresa lesada. As investigações apontam que o desvio de dinheiro ocorria há pelo menos cinco anos e era liderado pelo sócio mais novo.
O esquema funcionaria da seguinte forma: em guias da previdência social, o código de barras era fraudado. Já em declarações de débitos e créditos tributários federais (DCTF), campos de códigos de barra, inexistentes no documento original, eram inseridos. Ao fazer o pagamento, o dinheiro acabava em contas particulares de um dos suspeitos.
- Um deles, o mais novo, viajava frequentemente para Nova York. Estamos investigando se parte deste dinheiro está no exterior - afirma o delegado Noerci da Silva Melo.
A Frigeri integra um grupo com mais quatro empresas, também investigadas. Segundo o chefe do serviço de fiscalização da receita federal em Caxias, Kiyoshi D'ávila Matsuda, as investigações apontam movimentação financeira de uma dessas empresas, que se declara inativa. Dos imóveis apreendidos pela operação, pelo menos um não está declarado, o que é um indício de sonegação.
- O servidor de informática foi recolhido para análise dos dados: e-mails trocados, planilhas, documentos. Agora vamos verificar se há fraudes em outras empresas que o escritório atende, que chegam perto de 100, e para onde foi esse dinheiro desviado -declara Matsuda.
Suspeitos de participarem do esquema são investigados em Porto Alegre e Curitibanos (SC). Nesta última, há indícios de envolvimento na falsificação de assinaturas. Polícia e Receita Federal apuram também a participação de alguém da própria empresa lesada no esquema.
Sete automóveis e 88 imóveis apreendidos
A prisão temporária dos suspeitos vai até sexta-feira, quando a polícia vai decidir se solicita ou não a prorrogação. O inquérito, além de investigar os crimes de furto qualificado, falsificação e uso de documentos públicos e particulares, organização criminosa, sonegação fiscal e evasão de dívidas, apura também lavagem de dinheiro e utilização de laranjas.
Durante a operação, ontem, denominada de Zaqueu, além dos mandados de prisão temporária, dos doze de busca e apreensão em Porto Alegre, Curitibanos e Caxias do Sul, onze foram em Caxias, bem como 88 dos 91 imóveis com ordens de sequestro, como apartamentos e terrenos, além de sete carros. Também cinco mandados de condução coercitiva foram cumpridos nas três cidades.
Em depoimento à polícia, o suspeito de 67 anos disse desconhecer o envolvimento do filho em qualquer fraude. O advogado de pai e filho, Oscar Trindade, afirmou que eles abriram mão do direito de ficar calado e que provariam "quem fez tudo isso".
Os nomes dos envolvidos não foram confirmados pela polícia federal. Pelo menos 50 policiais federais e 10 servidores da Receita Federal participaram da operação, de acordo com o delegado da receita, Luiz Weschenfelder.
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