
Em depoimento que durou mais de cinco horas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, o ex-gerente executivo da Diretoria de Serviços da Petrobras Pedro Barusco falou sobre o esquema de corrupção na estatal e fez outras revelações, como a de que recebeu recursos para disputa entre Serra e Dilma.
No entanto, evitou entrar em detalhes e disse que apenas reiterava depoimento dado à Justiça Federal. Ele confirmou que recebeu propinas desde 1997 e 1998, ainda durante o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso, mas frustrou os parlamentares ao não entrar em detalhes. O delator da Operação Lava-Jato admitiu que, desde 1997, recebeu US$ 97 milhões em propina - e garantiu que devolverá a quantia aos cofres públicos.
Barusco foi a primeira pessoa a ser ouvida pela comissão da Câmara dos Deputados. Na próxima quinta-feira, o colegiado ouvirá o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli.
Contas da campanha de Dilma em 2010 serão investigadas
Sobre a campanha eleitoral de 2010, Barusco disse que foram solicitados recursos à SBM Offshore e que os valores foram repassados ao PT, via João Vaccari Neto, tesoureiro do partido.
Questionado a quem eram destinados os valores, Barusco disse que o dinheiro foi dado na época da eleição presidencial em que disputavam o tucano José Serra contra a petista Dilma Rousseff. Ele ressaltou que o dinheiro foi encaminhado ao PT.
- Foi solicitado a SBM um patrocínio de campanha, só que não foi dado por eles diretamente. Eu recebi o dinheiro e repassei num acerto de contas em outro recebimento - afirmou.
Barusco também disse que nunca teve indicação política para ocupar cargos na estatal e que o pagamento de propinas ao PT era discutido com o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto.
Ele também negou saber para quem seria repassado o dinheiro ilícito que chegaria às mãos de Vaccari Neto. Durante a sessão, o relator da CPI da Petrobras, Luiz Sérgio (PT-RJ), questionou o ex-gerente sobre o início desse esquema de pagamento de propina e insistiu para que desse detalhes de como ele ocorria ainda na década de 1990, durante o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso.
- Comecei a receber propina em 1997, 1998. Foi uma iniciativa pessoal, minha, com um representante comercial da empresa. De forma mais ampla, em contato com outras pessoas da Petrobras, de forma mais institucionalizada, foi a partir de 2003, 2004. Não sei precisar a data - afirmou.
Barusco afirmou que, na década de 1990, ocupava um cargo menor na estatal, não fechava contratos e não tinha conhecimento se outras pessoas recebiam propina. O relator, então, perguntou como ele negociava pagamentos ilegais naquele momento.
- Em relação a esse período eu não vou dar mais detalhes porque existe uma operação em curso e eu me reservo o direito de não comentar - respondeu Barusco.
Reserva de propina para o PT
O ex-gerente-executivo disse ainda que existia uma reserva destinada ao PT no valor que recebia de propina de empreiteiras. Ele informou ter acumulado uma fortuna de US$ 97 milhões em propina.
- Existia uma reserva para o PT receber. Não sei como o Vaccari recebeu - afirmou.
Barusco estima que o PT tenha recebido de US$ 150 milhões a US$ 200 milhões. Questionado se seria o "pai" da propina na Petrobras, o ex-gerente riu e negou. Ele também salientou que as empresas já apresentaram preços altos no primeiro momento.
- Sentimos a ação forte de cartel. Na minha avaliação não houve superfaturamento no Comperj. O que teve foi preço elevado.
Corrupção institucionalizada
Contudo, Barusco isentou a diretoria executiva da estatal de ter conhecimento do esquema de corrupção "institucionalizada" que começou a funcionar em 2004. Questionado pelo deputado Carlos Sampaio, líder do PSDB, se o presidente da Petrobras à época, José Eduardo Dutra, e os demais diretores tinham conhecimento da distribuição de propina, o delator afirmou que "era impossível o presidente saber se tinha ou não esquema em todos os contratos".
Barusco se disse arrependido de ter recebido propina na negociação de contratos da estatal. Ele fez um acordo para repatriar o dinheiro desviado para contas na Suíça.
- Este é um caminho que não tem volta. Não recomendo para ninguém. É muito doloroso. Esse repatriamento que estou fazendo agora me dá um alívio - disse, alegando que teve "fraqueza de começar" e que depois viveu uma sensação de "quase apavoramento".
Propina era depositada no Exterior
Quanto à governança da estatal, apesar de ser considerada boa para ele, Barusco disse que o que existia era a formação de cartéis externos. Ele revelou que recebia a propina toda praticamente no Exterior e que apenas "alguma coisa" foi recebida em espécie no Brasil:
- O problema não está localizado nas comissões de licitações.
Segundo ele, o envolvimento com agentes políticos era feito no momento da divisão da propina e que ele e o ex-diretor Renato Duque cuidavam da verba, além do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. O mecanismo envolvia representante da empresa e ele, Duque e Vaccari eram "protagonistas".
Empreiteiras não foram extorquidas, diz delator
O ex-gerente de Serviços contrariou a alegação de empreiteiros de que eram coagidos a pagar propinas. Também disse que não havia sanções às empresas que se negavam a pagar propina e participar do esquema.
- Fico procurando na minha mente e na minha memória e não me recordo de nenhum caso. Extorsão eu nunca vi - afirmou.
Barusco disse que só a partir da vinda do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, começou a ter reuniões com ele para tratar do pagamento de propina. Ele disse que não teve contato com Delúbio Soares, ex-tesoureiro petista condenado no caso mensalão, e que não sabe quem fazia essa articulação à época.
Sobre a Sete Brasil, Barusco disse que se trata de um projeto "muito interessante" e lamentou que a descoberta de pagamento de propina junto aos estaleiros tenha feito com que os agentes financeiros se retraíssem. Ele afirmou que é preciso separar a qualidade do projeto dos problemas que a estatal enfrenta.
- O problema da Petrobras é a propina - insistiu.
Barusco diz que Graça Foster nunca participou de esquema
Pedro Barusco isentou Graça Foster, ex-presidente da estatal, de participação ou conhecimento sobre o esquema de corrupção instalado na estatal.
- A presidente Graça nunca participou desse tipo de atividade. Se sabia, nunca externou - afirmou.
Ele também explicou que 1% do pagamento de propina era dado a ele e ao ex-diretor da Petrobrás Renato Duque e outro 1% era de Vaccari Neto, que operava pelo PT. Ele evitou dizer diretamente se a gestão petista na petroleira prejudicou a empresa.
- Não quero fazer julgamento se a gestão do PT foi boa ou ruim.
O ex-gerente admitiu, no entanto, que a má gestão e o pagamento de propinas são ruins para a Petrobras.
Confira os perfis dos políticos que serão investigados:
*Com informações do Estadão Conteúdo