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Operação Lava-Jato

José Otávio Germano ganhou propina por meio de doação oficial, diz doleiro

Alberto Youssef afirmou que um grupo de parlamentares do PP recebia recursos irregulares por meio de repasses declarados à Justiça

Guilherme Mazui / RBS Brasília

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Adriana Franciosi / Agencia RBS
O doleiro não especifica qual teria sido o valor e a empresa responsável pelo aporte na campanha

Investigado na Operação Lava-Jato, o deputado José Otávio Germano (PP-RS) teria recebido dinheiro desviado de contratos da Petrobras por meio de doações oficiais para sua campanha eleitoral. É o que diz o doleiro Alberto Youssef em seus depoimentos de delação premiada.

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Disponibilizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), os detalhes dos depoimentos do doleiro e do ex-diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, traçam o cenário da suposta mesada concedida a parlamentares do PP, abastecida por comissões pagas por um cartel de empreiteiras ao partido. O esquema, que teria se estendido de 2005 a 2012, colocou entre os investigados da Lava-Jato cinco deputados gaúchos e um ex-deputado.
 
Germano foi citado em um grupo de parlamentares da cúpula da legenda que, segundo Youssef, receberam propina por meio de doações oficiais, declaradas à Justiça Eleitoral. A descrição do depoimento do doleiro diz que "nas épocas de campanha eleitoral, nos anos de 2006 e 2010, também era utilizado pelas empreiteiras cartelizadas o subterfúgio de efetuar doações oficiais para fazer frente aos repasses de propinas".  No grupo aparecem nomes como o do ex-ministro Mário Negromonte, do ex-deputado João Alberto Pizzolatti e o do deputado Nelson Meurer (PP-PR).
 
Sobre o gaúcho, o doleiro não especifica qual teria sido o valor e a empresa responsável pelo aporte na campanha. Ele apenas explicou que, no geral, as doações eram efetuadas aos diretórios nacional ou estaduais do PP, ou diretamente aos parlamentares. O dinheiro teria sido descontado da comissão de 1% que as empreiteiras deveriam repassar ao PP sobre o valor de todo contrato firmado na Diretoria de Abastecimento.

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Em 2006, não há registro de repasses do diretório nacional ou de empresas investigadas na Lava-Jato para Germano. Já em 2010, o deputado recebeu R$ 839.107,54 do diretório nacional do PP, sendo que a origem do dinheiro não é descrita pelo TSE. Das empreiteiras que formariam o cartel, aparecem entre os doadores da campanha a Engevix (R$ 20 mil), a Camargo Corrêa (R$ 200 mil) e a Queiroz Galvão (R$ 200 mil).
 
Na delação, Youssef cita a Queiroz Galvão como uma das empresas às quais, em 2010, ele solicitou doações oficiais, que seriam descontadas das comissões, para os candidatos a deputado federal e senador pelo PP. Conforme o doleiro, a empreiteira repassou R$ 7,5 milhões ao partido usando os CNPJs da Vital Engenharia Ambiental SA e da Construtora Queiroz Galvão SA. A segunda aparece na prestação de contas de Germano como responsável pelo aporte de R$ 200 mil.
 
Os demais gaúchos investigados também tiveram auxílio financeiro do diretório nacional do PP em 2010. Luis Carlos Heinze e Vilson Covatti receberam R$ 189,8 mil cada, Afonso Hamm e Renato Molling ganharam R$ 90 mil cada, enquanto Jerônimo Goergen recebeu R$ 22 mil.
 
Os depoimentos de Youssef ainda colocam Germano dentro de um "grupo hegemônico" que liderou o PP de 1994 até 2011 - o gaúcho tornou-se deputado federal em 2003. O parlamentar integraria a ala comandada por José Janene (morto em 2010), Mário Negromonte, Nelson Meurer e João Alberto Pizzolatti, que manteve a liderança da bancada na Câmara até agosto de 2011.

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Responsável por colocar Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento da Petrobras, o então deputado Janene seria o organizador do suposto esquema de desvios na estatal. Em 2010, com a morte de Janene, o então deputado Mário Negromonte assumiu a dianteira do grupo. Ao final do mesmo ano, ele foi indicado para o Ministério das Cidades, função que ocupou até 2012. Antes, em 2011, uma rebelião interna do PP alçou ao controle do partido o grupo de Ciro Nogueira, Arthur Lira e Aguinaldo Ribeiro. Negromonte deixou o ministério, substituído por Ribeiro.
 
Apesar de ser pontuado pelo doleiro no grupo hegemônico, Germano aparece na relação do próprio delator dentro da lista de deputados de "baixo clero". Enquanto os líderes da legenda teriam recebido mesadas entre R$ 250 mil e R$ 500 mil, Germano estaria entre os 25 deputados que levariam de R$ 30 mil a R$ 150 mil mensais, conforme a força política de cada um - os outros cinco gaúchos também entrariam neste grupo. Os pagamentos que teriam ocorrido em espécie não foram realizados diretamente por Youssef, mas pelas lideranças da sigla.
 
Em média, o baixo clero do PP movimentava entre R$ 1,2 milhão e R$ 1,5 milhão na suposta mesada. O mensalinho do PP deveria assegurar as vitórias nas eleições de líder do partido na Câmara e manter os deputados comprometidos em apoiar o governo em votações consideradas estratégicas. Para as escolhas de líderes, haveria um pagamento extra aos deputados.

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O que diz José Otávio Germano

Por meio do advogado José Paganella Boschi, o deputado volta a negar envolvimento com os desvios da Petrobras e reforça o desejo de esclarecer a situação o mais rápido possível. Os sigilos bancário, fiscal e telefônico de Germano já estão à disposição da investigação. Como presidiu a Comissão de Minas e Energia da Câmara, o gaúcho teve apenas relacionamento institucional com a Petrobras. Sobre as doações, o dinheiro veio do partido de forma legal. A defesa ainda lembra que o caso está apenas na fase de inquérito, sem uma denúncia contra Germano.


Confira os perfis dos políticos que serão investigados:

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