Fernando Becker, professor da Faculdade de Educação da UFRGS, classifica como absurda a proposta do Projeto de Lei n° 124/2015, que está em tramitação na Assembleia Legislativa e prevê o ensino do Criacionismo em escolas públicas e privadas do Rio Grande do Sul. O criacionismo, segundo o docente, é uma postura "pseudocientífica", puramente religiosa.
- É baseado em crença, não em evidência. Um total contrassenso, vai contra qualquer sentido científico. A escola tem por função trazer o conhecimento à população que de outra forma não teria como chegar aos resultados da ciência. É afronta à escola - critica Becker.
Professor de Filosofia da mesma instituição, Luiz Carlos Bombassaro afirma que o criacionismo esbarra em um conteúdo ideológico e religioso. Os criacionistas precisariam superar essa posição dogmática para debater a criação, que é, sim, plenamente discutível. Um espelho aos dogmáticos poderia ser a própria ciência, que não mantém os seu dogmas permanentemente, renovando-se e vivendo da crítica a eles. No entanto, alguns defensores do criacionismo chegam a considerá-lo uma ciência, o que duplica o problema e trava a discussão, ressalva o professor.
- Não vejo que a introdução do criacionismo nas escolas possa ajudar em qualquer coisa na solução do problema. Tem que se discutir biologia, cosmologia e coisas assim nas escolas. O problema é filosófico, no fundo, e não vai ser resolvido na base de uma discussão religiosa - argumenta.
O projeto terá oposição na Assembleia. O deputado Tarcísio Zimmermann (PT) é um dos contrários, com o argumento de que o estudo é laico e a escola deve ensinar a ciência, e não dogmas. Ele considera que a questão do criacionismo já está contemplada no ensino religioso e não pode interferir em outras disciplinas que incluem temas como o evolucionismo ou teorias como o Big Bang.
- Se a deputada apresentar qualquer argumento científico, ela sustenta o criacionismo. Senão, não sustenta - afirmou o petista.
Zimmermann ressaltou que atualmente tem ocorrido uma "espécie de efervescência de ideias que atacam a pluralidade". Ela citou como exemplo a discussão recente sobre o uso de animais em rituais religiosos de matriz africana no Estado, que seria proibido por meio de um projeto de lei da deputada Regina Becker (PDT), mas acabou sendo rejeitado.
Protocolado na Assembleia, o projeto da deputada Liziane ainda não passou por nenhuma comissão.
COMO É NO BRASIL
O evolucionismo é matéria normal dentro do currículo das escolas do país. Mas há muitas instituições que ensinam o criacionismo. Escolas adventistas, por exemplo, costumam contar com a visão criacionista no currículo. A rede presbiteriana Mackenzie aborda o assunto no sexto ano do Ensino Fundamental, junto ao conteúdo evolucionista. Já a rede Pueri Domus conta com 160 unidades no país, algumas delas católicas e protestantes, e inclui o conteúdo nas aulas de ciências.
Em âmbito federal, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) entrou com um projeto de lei que torna obrigatório o ensino do criacionismo no Brasil. Durante a tramitação, que começou no ano passado, o texto foi anexado a outro projeto do mesmo deputado, datado de 2011, cujo teor obriga a inclusão do ensino religioso nas escolas. No último dia 13, o texto chegou à Comissão de Educação da Câmara, que dará um novo parecer devido à anexação dos projetos.
COMO É NO REINO UNIDO
No ano passado, foi proibido o ensino do criacionismo nas escolas e universidades públicas, enquanto a Teoria da Evolução passou a ser exigida nas séries iniciais. O argumento é de que as próprias religiões questionam o criacionismo, além de evidências científicas darem respaldo ao evolucionismo.
COMO É NOS ESTADOS UNIDOS
O panorama é diferente. Milhares de escolas ensinam o criacionismo, inclusive como uma alternativa ao evolucionismo.
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