
O corpo do menino Eduardo de Jesus, 10 anos - morto por um tiro de fuzil no fim da tarde desta quinta-feira, no Complexo do Alemão, comunidade da zona norte do Rio de Janeiro -, será levado para o Piauí, onde a mãe quer que seja enterrado.
Segundo moradores, que protestaram em caminhada pelo conjunto de favelas na noite desta quinta, Eduardo brincava em uma escadaria próximo à porta de casa quando teria sido morto por policiais militares. A criança é a quarta vítima de tiroteio na região na semana.
Em entrevista ao G1, a mãe de Eduardo, a empregada doméstica Terezinha Maria de Jesus, de 40 anos, lembrou dos sonhos que o garoto nutria:
- Ele sempre falava que queria ser bombeiro. Ele estudava o dia inteiro, participava de projeto na escola, só tirava notas boas. Por que fizeram isso com meu filho? - questionava sem parar.
A mãe conta que estava sentada no sofá de sala quando ouviu o disparo. Ao sair de casa, encontrou o filho morto. Terezinha afirma que "nunca esquecerá" do rosto do policial militar que teria efetuado o disparo:
- Eu marquei a cara dele. Eu nunca vou esquecer o rosto do PM que acabou com a minha vida. Quando eu corri para falar com ele, ele apontou a arma para mim. Eu falei 'pode me matar, você já acabou com a minha vida' - disse a mãe ao G1.
Ela pretende deixar o Rio de Janeiro após a morte do filho:
- Eu quero tirar o meu filho daqui, quero enterrar no Piauí. Vou levar o corpo do meu filho para o Piauí. Vou voltar [ao Rio] porque eu quero justiça e depois eu vou embora para lá. Não quero ficar nesse lugar maldito, eu vou sair daqui.
Segundo a Coordenadoria das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), policiais do Batalhão de Choque faziam um patrulhamento quando foram recebidos a tiros na localidade conhecida com Areal e revidaram. As armas dos policiais serão apreendidas pela Polícia Civil, que abriu inquérito na Divisão de Homicídios. O caso também será investigado por um Inquérito Policial Militar (IPM).
Complexo do Alemão tem quatro mortes em três dias
Nos últimos três dias, uma série de confrontos e tiroteios deixou o Complexo do Alemão em alerta. Além do menino de 10 anos, outras três pessoas foram mortas e três ficaram feridas em dois tiroteios ocorridos na quarta-feira. A revolta em relação aos recentes casos geraram uma campanha nas redes sociais pela paz na comunidade:
<BLOCKQUOTE cite=https://www.facebook.com/photo.php?fbid=461799680651908&set=a.107014372797109.17401.100004656403984&type=1>Posted by Alemao Morro on Sexta, 3 de abril de 2015
A primeira troca de tiros ocorreu por volta das 16h, quando policiais em patrulhamento entraram em confronto com suspeitos armados. Rodrigo de Souza Pereira foi atingido na cabeça e morreu no local. Elizabeth de Moura Francisco, de 40 anos, foi atingida no rosto por uma bala perdida dentro de casa e também morreu no local. Uma filha de Elizabeth, de 14 anos, foi ferida no braço e socorrida ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, no bairro da Penha, na zona norte do Rio. A adolescente foi liberada e passa bem.
Na mesma unidade de saúde, permanece internado um jovem de 15 anos que foi atingido por tiros no braço, na perna e no tórax, mas seu estado de saúde é estável, informou a Secretaria de Estado de Saúde. Além dos dois adolescentes, um policial também foi levemente ferido por estilhaços.
Ainda na noite de quarta, outro tiroteio ocorreu por volta das 20h30 no Complexo do Alemão. Matheus Gomes de Lima foi morto na troca de tiros. O rapaz chegou a ser levado ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu.
As armas dos policiais envolvidos nos dois tiroteios foram apreendidas para confronto balístico. Os casos foram registrados na Delegacia do Alemão e na Delegacia da Penha, respectivamente.
Na manhã de quinta, uma base avançada da UPP do Alemão, que funciona em um contêiner, foi depredada. As janelas e portas foram quebradas e colchões e uma caçamba de lixo foram incendiados ao lado da unidade, na Rua Canitar, segundo o Comando das UPPs.
Por meio de redes sociais como Twitter e Facebook, moradores relataram haver lixo incendiado em outros pontos da comunidade. Também houve relatos de que comerciantes mantiveram as portas fechadas no Complexo do Alemão.
Agentes do Batalhão de Choque e do Centro de Operações Especiais (COE) reforçaram o policiamento no local.
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