Um grande amor não vai fazer você feliz. Ao contrário, talvez o torne um miserável dependente.
As delícias da carne também não. Você pode se entregar ao deleite de todos os prazeres mundanos, todos os dias, sem sentir um minuto de alegria.
Fama? Se fama desse alívio à alma, Marilyn Monroe e Robin Williams não teriam se suicidado, e Michael Jackson jamais teria se tornado branco e triste.
Realizações? Que homem pode ter realizado façanha mais grandiosa do que Churchill, que salvou a civilização? E, ainda assim, ele sofria, e chamava a depressão de seu "cão negro".
Dinheiro, quem sabe? Homens matam e morrem por dinheiro. Então, como se explica a vida do atormentado Howard Hughes, um dos seres humanos mais ricos de seu tempo, produtor de filmes de sucesso, considerado o maior aviador do mundo, conquistador das mulheres mais desejadas do cinema, como a volátil Ava Gardner e a lânguida Katharine Hepburn? Hughes era tudo o que todos queriam ser, e morreu solitário e louco, temendo germes invisíveis como se fossem feras famintas.
O que faz uma pessoa ser feliz não é nada que está fora dela. Não é nem o que ela é. O que faz uma pessoa feliz é o que ela tem por dentro.
Ontem, recebi um comovente e-mail sobre esse tema. É de um bom amigo, um ótimo jornalista que, devido aos seus problemas pessoais, está meio que na penumbra da profissão. Ele prefere não se identificar, porque diz existir preconceito contra a doença da infelicidade.
Nesse e-mail, meu amigo pede que eu escreva a respeito do mal de espírito que o aflige, para, talvez, fazer com que as pessoas pensem a respeito. Preferi dar-lhe voz direta. Gostei do que escreveu, da forma como escreveu, e acho que há nesse pequeno depoimento força suficiente para provocar uma reflexão. Eis:
"Meu!
Um dia desses, quando nem mesmo um esquilo te açular a imaginação, pensa nos bipolares. Não com a graça que o anedotário empresta ao tema. Não com o falso jargão que tenta mimetizar o sujeito que pode oscilar de humor de vez por outra. Não. Falo da doença. Dessas que te levam ao precipício da morte, quando a fase é depressiva. Dessas que te carregam para situações de perigo. É uma doença infame. Vive-se, sempre, à espreita de duas sombras, euforia ou depressão. Por vezes, em ciclos diários. Um estrago sem fim. Não sobram relacionamentos. Não sobram estabilidades de emprego. Restam uns poucos, bem poucos, amigos. Há dias em que o fim de noite é o único aconchego, porque a dor costuma ser amenizada pelo silêncio do escuro. Não há genialidade póstuma que valha uma doença degenerativa. Van Gogh seria rico e feliz, e com as duas orelhas, se não fosse depressivo. Outros tantos teriam visto quão lindo é o sol. Mas, na depressão, tudo fica embotado. Pensa nisso. Tens palavras e sensibilidade para chamar a atenção para esse mal. Faz isso!"
Está feito.