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Uma eleição presidencial começa a tomar contornos épicos para 2016 nos Estados Unidos - e não só pelos temas que estarão na pauta. As apostas mais veementes dão conta de que dois clãs se enfrentarão no dia 8 de novembro do próximo ano, uma terça-feira.
De um lado, a democrata Hillary Clinton representa o sobrenome que liderou o país entre 1993 e 2001, por intermédio do seu marido, Bill. De outro, o republicano Jeb Bush representa o sobrenome que administrou o país entre 1989 e 1993, com seu pai, George H. W., e entre 2001 e 2009, por meio do seu irmão, George W. São duas famílias e duas formas diferentes de ver a política.
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- Será uma disputa curiosa - diz o embaixador Rubens Barbosa, que serviu em Washington entre 1999 e 2004.
Barbosa projeta uma disputa em que temas internos, como a economia e a saúde, serão preponderantes. A possível participação de Hillary também deve conduzir os debates para as relações internacionais. E aí entrarão questões como a abertura para Cuba, que, segundo ele, beneficiariam a ex-primeira-dama.
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Hillary desponta como favorita para ser a candidata do seu partido. Barbosa acredita nisso, mas ressalva: ela seria muito vulnerável. Mesmo tendo a maior popularidade entre os democratas e contando com a possibilidade de ser a primeira presidente americana, a mulher de Clinton tem, em especial, algumas fraquezas.
Quando era secretária de Estado do governo Obama, um atentado ao consulado americano em Benghazi, na Líbia, matou quatro pessoas, incluindo o embaixador. Era 2012. Ela assumiu a responsabilidade pela falha na segurança. Outro problema: Hillary usou e-mail pessoal para discutir assuntos de trabalho, levantando suspeitas de que esconderia informações - por lei, cartas e e-mails recebidos e emitidos por funcionários são propriedade do governo e devem ser guardados. Ainda houve o caso mal explicado de recursos obtidos pela fundação da família.
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Jeb Bush desponta como favorito para a candidatura republicana. O problema é que a disputa no seu partido deve ser bem mais acirrada. A situação se agravou no dia 16, quando o multimilionário Donald Trump anunciou que vai entrar na corrida pela Casa Branca. Com dinheiro de sobra e imagem de empresário bem-sucedido, Trump promete restaurar a grandeza dos EUA. Mas não ficam nesse os empecilhos para Jeb Bush. Houve um episódio que provocou desconfiança em relação a sua sinceridade, algo inadmissível para os americanos. Em 2009, definiu-se como "hispânico" numa ficha de inscrição eleitoral que lhe pedia para declarar "raça/etnicidade". Jeb Bush é casado com a mexicana Columba e fala espanhol fluentemente. Mas não é hispânico. Pediu desculpas pelo Twitter e disse ter se equivocado.
Três famílias têm governado os EUA
O historiador Paulo Visentini, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), lembra que três famílias têm governado os EUA por pelo menos oito anos cada uma: os Bush, os Clinton e os Obama. Na atual política internacional, Visentini identifica a peculiaridade de que há um "terrorismo desterritorializado" e o afastamento de alguns aliados.
- Arábia Saudita e Alemanha não são mais tão confiáveis - comenta.
Quanto a Cuba, Visentini diz:
- Cuba deixou de ser problema. A curiosidade é saber como a reaproximação vai pesar no voto americano.
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Será a 58ª eleição presidencial dos EUA. Os candidatos têm de participar das prévias partidárias. Nelas, os delegados dos partidos nomearão um deles para concorrer. Hillary Clinton e Jeb Bush tendem a fazer um duelo histórico.
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Hillary Clinton
Ex-primeira-dama e secretária de Estado, 67 anos, está à frente nas pesquisas em relação a outros democratas. Hillary e seu marido, Bill Clinton, têm dado demonstrações de união. Ainda é presente o envolvimento extraconjugal de Clinton com uma estagiária. Clinton disse, na TV, que confiou sua vida a ela "várias vezes" e que ela é o "pilar" da família. Para quem diz que tem idade avançada, Hillary brinca que será "a mulher mais jovem a presidir os EUA" e "a primeira avó". Pesquisa da Universidade Quinnipiac mostra que ela teria 57% dos votos de eleitores democratas, à frente do senador Bernie Sanders (15%) e do vice-presidente Joe Biden (9%).
Jeb Bush
O nome Bush ficou conhecido por ser o sobrenome de dois presidentes americanos. Ex-governador da Flórida, irmão de um presidente e filho de outro, casado com uma mexicana e fluente em espanhol, Jeb, 62 anos, começou a carreira política na Flórida como governador de 1999 a 2007. Tem visitado Estados estratégicos nas primárias de 2016. Já divulgou o logo de campanha, um "Jeb!", que omite o sobrenome. Jeb diz que admira o irmão, George W. (2001-2009), e o pai, George (1989-1993), mas insiste na frase "Eu sou eu". É uma forma de se descolar dos seus familiares.
DEMOCRATAS
Joe Biden
O atual vice-presidente, 71 anos, acompanha Obama desde 2008. Foi senador por Delaware. É especialista em diplomacia.
Martin OMalley
Ex-governador de Maryland, 51 anos, já faz campanha intensa, especialmente em New Hampshire e Iowa, Estados estratégicos.
Elizabeth Warren
Senadora por Massachusetts, 66 anos, é preferida entre democratas progressistas. Adversários internos de Hillary a veem como contraponto.
Bernie Sanders
Senador independente por Vermont, 73 anos, se diz socialista e atrai simpatizantes democratas. Candidatura pode puxar Hillary para a esquerda.
REPUBLICANOS
Rand Paul
Senador por Kentucky, 52 anos, faz do liberalismo econômico profissão de fé. Liberal também nos costumes.
Chris Christie
Governador de Nova Jersey, 52 anos, é moderado. Notabiliza-se por ser bom negociador, inclusive com os adversários democratas.
Paul Ryan
Candidato a vice em 2012 pelos republicanos. Aos 45 anos, já foi eleito deputado sete vezes. Tido como bom legislador. Apoiado por Wall Street.
Marco Rubio
Com origem no conservadorismo do Tea Party, Rubio, 44 anos, surpreendeu ao defender reforma imigratória. Político carismático.
Ted Cruz
Referência do conservadorismo republicano do Texas. Tem 44 anos. Liderou paralisação do governo em 2013 por discordar da lei de saúde pública.
Bobby Jindal
Governador de Louisiana, 44 anos, de ascendência hindu, mantém discurso crítico ao partido, o qual já definiu como "estúpido".
Donald Trump
Aos 69 anos, quer trocar a iniciativa privada, onde se tornou multimilionário, pela presidência. É dono de hotéis.