*Zero Hora
Os ataques em três continentes foram coordenados? Essa é a pergunta que se impõe desde o início da manhã de hoje, quando a notícia de atentados em Saint-Quentin Fallavier, na França, Sousse, na Tunísia, e na cidade do Kuweit se espalhou pelas redes.
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Todos os que assistiram ao choque de aviões comerciais contra as torres do World Trade Center, com 13 minutos e 55 segundos de intervalo, na manhã de 11 de setembro de 2001, tendem a associar atentados simultâneos (ou quase) à Al-Qaeda. A rede de Osama bin Laden tinha motivos para se especializar nesse tipo de ataque. Após o fim da União Soviética e a I Guerra do Golfo, em 1991, o mundo pareceu se desinteressar pelo Oriente Médio.
O fim do regime do apartheid, na África do Sul, sugeria o início de uma era de solução pacífica de conflitos, que o processo de paz de Oslo entre israelenses e palestinos parecia confirmar. Nesse contexto, ninguém prestaria atenção numa pequena organização que pregava a guerra contra potências estrangeiras na região. A menos, é claro, que seus integrantes exibissem um poder desmedido.
O kuweitiano Khaled Sheikh Mohammed, formado em engenharia mecânica na Universidade Estadual de Técnica e Agricultura da Carolina do Norte e conhecido como o "Cérebro" do 11 de Setembro, era obcecado por ações espetaculares. Muito antes da derrubada das Torres Gêmeas, ele sugerira a Bin Laden o sequestro de 10 jatos civis a serem lançados contra alvos como a Casa Branca, o Pentágono e outras. Ninguém lhe deu muita atenção até 1998.
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Em 7 de agosto daquele ano, quando se completavam oito anos do início da Operação Tempestade no Deserto, como ficou conhecido o ataque a Saddam Hussein na I Guerra do Golfo, a Al-Qaeda explodiu carros bomba diante de duas embaixadas americanas em Nairóbi, no Quênia, e Dar es-Salaam, na Tanzânia.
As detonações ocorreram com apenas nove minutos de intervalo. Deixaram 224 mortos e milhares de feridos. Àquela altura, atacar ao mesmo tempo duas embaixadas americanas parecia um prodígio de inteligência e logística, algo que somente um Estado patrocinador do terrorismo com alta sofisticação poderia fazer. Na realidade, as bombas haviam sido montadas num casebre no Quênia por um egípcio veterano da Jihad Islâmica e da guerra contra os soviéticos no Afeganistão.
O sucesso do atentado de 7 de agosto de 1998 reabilitou a ideia que desembocou no 11 de Setembro. Sheikh Mohammed passou a ser descrito pela inteligência americana como uma espécie de "James Bond", nas palavras do ex-diretor da CIA George Tenet.
Não há nenhum traço, nos atentados desta sexta-feira, que indique preocupação com coordenação ou simbolismo, a não ser o fato de terem ocorrido na mesma manhã do mês islâmico sagrado do Ramadã.
A investida contra a mesquita xiita na Cidade do Kuweit foi, até agora, o único a ser reivindicado por um grupo, o Estado Islâmico (EI). O ataque à usina perto de Lyon foi aparentemente obra de dois "lobos solitários" - segundo o jargão antiterrorista, indivíduos radicalizados sem laços com nenhuma organização específica.
O atentado contra o hotel tunisiano foi provavelmente planejado por um grupo militante com relativa capacidade operacional, talvez baseado na vizinha Líbia. Pesa a favor dessa hipótese o fato de o hotel estar ocupado majoritariamente por não muçulmanos durante o Ramadã.
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