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Opinião

Moisés Mendes: Nico é o gaúcho

Leia a coluna em homenagem ao tradicionalista, morto nesta quarta-feira

Escrevi este texto no domingo. Nessa quarta-feira, enviei um e-mail ao Neto Fagundes falando da crônica. Informei que finalmente iria publicá-la na sexta. Neto me disse que Nico Fagundes estava peleando pela vida no hospital. Pouco antes das 22h, ele me informou por e-mail da morte do tio. Peço desculpas à memória de Nico Fagundes pelo texto que chega atrasado, mas mesmo assim decido publicar, do jeito que escrevi.

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Em todas as viagens que fiz ao Exterior, em grupos de jornalistas, ouvi sempre as mesmas frases: pergunta pro gaúcho, olha só o gaúcho, esperem o gaúcho, ouçam o gaúcho. Minha identidade não estava no nome, mas na condição de gaúcho. É assim com todo gaúcho em excursões e caravanas. Mas poucos se referem desse jeito a cearenses, paranaenses, alagoanos, mineiros. Se me perguntassem o que é o gaúcho, eu diria que é o único sujeito sempre citado como tal num grupo com gente variada, em quaisquer circunstâncias.

Nas viagens que fiz, me perguntavam se eu dançava a chula, ou se laçava, ou se sabia declamar. Outros perguntavam onde fica o Alegrete. Nesses momentos, os paulistas se denunciavam visivelmente enciumados. O gaúcho sempre vira atração e por isso é um tipo exibido. Mas o que somos nós hoje, nessa pindaíba? Minha amiga jornalista Jussara Porto me garante que um simpósio em realização em Porto Alegre tem algumas respostas. A Jussarinha divulga os debates do seminário NósOutros Gaúchos (assim mesmo, com o NósOutros tudo junto). É uma ideia do Instituto Associação Psicanalítica de Porto Alegre e do Departamento de Difusão Cultural da UFRGS (continua dia 1º, na Reitoria).

O gaúcho deve ser o único brasileiro que ainda faz seminário para saber o que é, talvez por insegurança. Os paulistas também faziam, mas há muito tempo eles só têm certezas e não precisam mais disso. O Brasil adora os gaúchos, apesar da retórica separatista. É possível até confundir os sotaques e o jeito de um alagoano e de um pernambucano.

Mas um gaúcho é inconfundível. O gaúcho venceu todas as guerras. Só gaúcho treina a Seleção, mesmo que o técnico anterior tenha tomado 7 a 1. E gaúcho pula na dança do pezinho mas é o mais macho de todos os brasileiros. Pense, leitor, na figura que o representa como gaúcho. Quem seria? Eu diria que hoje somos todos meio Fagundes. Gosto muito da família Fagundes, e não só porque eles são do Alegrete. Se me perguntassem hoje o que é um gaúcho, eu diria que gaúcho mesmo é o Antônio Augusto Fagundes. Mas como não me perguntam, eu deixo por isso mesmo.

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