
Cinquenta crianças e adolescentes foram mortos na Capital e na Região Metropolitana nos cinco primeiros meses de 2015. Durante dois meses, investigação conjunta de Zero Hora e Diário Gaúcho apurou, que, a cada três dias, um jovem é executado antes de chegar à maioridade.
Duas famílias foram destruídas por tanta violência na Região Metropolitana nestes primeiros cinco meses de 2015.
Se pudesse voltar no tempo, Carmem Ferreira de Souza, 45 anos, não tem dúvida do que mudaria em sua vida:
- Não criaria os meus filhos nesse lugar.
Ataque a tiros deixa um jovem e três adolescentes mortos em Alvorada
É uma casinha simples, de três peças, no fundo de um terreno da Quinta Unidade do bairro Restinga, na zona sul de Porto Alegre. Desde o dia 15 de março, é difícil ver Carmem botar o pé para fora de casa. As janelas e a porta raramente estão abertas. A mãe perturba-se e engole as palavras quando alguém lhe pergunta sobre a morte da filha, Brenda Souza dos Santos, 17 anos. A menina morreu a caminho de casa, quando voltava de lotação de uma festa no Centro.
- Até hoje eu não sei direito o que aconteceu com ela. Não consigo entender por que matarem uma menina alegre, que só pensava em se divertir e não tinha briga com ninguém - lamenta Carmem.
Estudante morto em Bento Gonçalves já havia sido roubado no ano passado
O inquérito policial da 4ª DHPP concluiu que Brenda foi assassinada de graça. Os criminosos seriam integrantes da gangue dos Marianos em busca de rivais da Quinta Unidade, que voltavam da mesma festa. Além de Brenda, pelo menos outros três jovens ficaram feridos. O alvo dos disparos, porém, escapou ileso.
O PAI, CARROCEIRO, QUE PERDEU DOIS FILHOS
- Quando eu ouvi o tiro e saí para ver o que era, já não deu mais tempo de fazer nada. Eu sabia que uma hora, nessa vida que eles estavam seguindo, isso iria acontecer.
Adolescente morto em briga entre torcidas sonhava ser jogador de futebol
O carroceiro Cláudio Dias Picanço, 45 anos, não conseguiu evitar, em 25 de março, que o filho Cláudio Jean Rodrigues Picanço, 15 anos, fosse morto a tiros por dois homens na Rua Santa Rita de Cássia, bairro Mathias Velho, em Canoas. Envolvido no tráfico de drogas, ele estava na esquina de casa quando foi assassinado.
Adolescente em Pelotas acaba morto por engano
O carroceiro sabe que a perda de Cláudio Jean só repetiu uma realidade histórica. Apenas sete meses antes, seu outro filho, Alisson Sandro Rodrigues Picanço, o Gão, foi morto a tiros, aos 17 anos, na saída de um baile funk, também no Mathias Velho. Alisson, segundo o pai, também traficava.
Cláudio Dias Picanço, pai do adolescente Cláudio Jean Rodrigues Picanço
Foto: Eduardo Torres/Agência RBS

- Essas drogas destruíram a minha família. Cansei de amanhecer procurando eles pelas bocas, tentava tira-los disso aí, fazê-los trabalharem comigo na carroça. Mas eles diziam que era tudo com eles, que não precisavam trabalhar comigo. A gente fica sem saber o que fazer - lamenta o pai.
Leia todas as últimas notícias de Zero Hora
Fazia apenas um mês que Cláudio havia se separado da mulher. O pai ficou com os dois guris e os outros três filhos. Depois da morte de Alisson, ele perdeu o controle sobre Cláudio Jean.
- Ele começou a falar em se vingar, andar armado. Chegaram a prender ele com arma, aí eu internei ele por dois meses para ver se largava as drogas, mas ele não queria, né - diz Cláudio.
A Delegacia de Homicídios de Canoas ainda não encerrou o inquérito que investiga a morte de Cláudio Jean, mas parece não ter dúvida de que o crime tem relação com o tráfico de drogas.