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A Operação Lava-Jato, que esta semana extrapolou seus esforços de investigação na Petrobras e começou a investigar obras da usina nuclear Angra 3, negocia uma delação bombástica. A tentativa é fazer que Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal petrolífera, fale de nomes, sobrenomes, contas bancárias e propinas que sabe.
ZH confirmou que cinco pessoas fizeram delação premiada esta semana na Lava-Jato - uma delas, o lobista Mário Góes, que confirmou uso de suas firmas para repasse de dinheiro de empreiteiras a diretores corruptos da Petrobras. Os nomes dos outros não foram revelados, mas crescem os informes de que um deles é Renato Duque, homem indicado pelo PT para ocupar a Diretoria de Serviços da Petrobras.
- As negociações estão adiantadas, mas não sei se fecharam - confirmou a ZH um dos investigadores.
Antes avesso a colaborações premiadas, o advogado de Duque, Alexandre Lopes, deu entrevista em julho admitindo que a delação já "não é impossível", devido ao longo período em que o ex-dirigente da Petrobras está na cadeia. Duque está preso de forma contínua desde março (já esteve preso em novembro e foi solto em dezembro, para ser preso de novo em março).
O motivo da segunda prisão, segundo os investigadores, foi o repasse de milhões em dinheiro que Duque teria na Suíça para uma conta em Mônaco, mesmo depois de ser investigado, alertado e indiciado pela Lava-Jato.
Contra Duque pesam vários depoimentos. O principal é de seu braço direito, Pedro Barusco, que era gerente na diretoria de Serviços da Petrobras. Delator, Barusco concordou em devolver às autoridades brasileira mais de US$ 100 milhões (cerca de R$ 350 milhões) que possui distribuídos em contas na Suíça e Canadá. Ele assegura que parte desse dinheiro foi propina para Duque. Outro que menciona Duque é o mais recente delator, Mário Góes - ele disse que propina entregue por ele a Barusco também era destinada a Duque e a partidos políticos.
Duque deve se apressar, se quiser mesmo reduzir sua pena. Ele foi denunciado esta semana na Lava-Jato por corrupção ativa e lavagem de dinheiro, por favorecimento à empresa italiana Saipem em contratos com a Petrobras. A propina para Duque teria sido paga através da empresa offshore Hayley, sediada no Uruguai, mas com contas também na Suíça.
E sobre o que Duque falaria? A expectativa dos investigadores é que, além de devolver dinheiro, ele esclareça o papel de políticos no esquema. Até agora os delatores que apareceram afirmam ter trabalhado direto com partidos como o PP (o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Carlos Alberto Costa) e o PMDB (o lobista Julio Camargo informou repasses a integrantes desse partido). Falta, no entender da cúpula da Lava-Jato, alguém ligado ao PT para revelar negócios relativos a esse partido.