Leandro Fontoura
O economista Luiz Carlos Bresser-Pereira é um senhor de causos. Ministro de três pastas em dois governos, tem histórias para contar do tempo em que esteve no centro do poder. Uma delas fala muito ao atual momento político brasileiro. Em 1995, Bresser queria ver aprovada sua reforma administrativa, uma iniciativa bastante pes- soal, inspirada em experiências nos Estados Unidos e na Inglaterra, que, em um primeiro momento, não tinha nem o apoio de Fernando Henrique Cardoso.
O economista conta que, dias antes de começar o governo, procurou o presidente para dizer que planejava modernizar a gestão pública e que, entre as medidas, precisaria encaminhar ao Congresso uma proposta de emenda à Constituição. FHC ouviu o auxiliar e ponderou que a reforma não estava na agenda do Planalto e que não fizera parte dos compromissos de campanha, mas permitiu a Bresser levar a ideia adiante. O presidente só abraçaria a causa se ganhasse sustentação política.
Convencido da necessidade de mexer no serviço público - algo que os anos acabariam comprovando ser inevitável -, o ministro saiu em busca de apoios. Organizou debates, deu entrevistas, conversou com servidores, governadores, prefeitos e deputados. Só esbarrou no Judiciário e no PT. Após dialogar com todas as bancadas, ainda achava que precisava tentar persuadir os petistas, contrários à reforma e adversários de FHC.
Um dia, convidado por um parlamentar governista para um churrasco, usou de uma estratégia: só iria se o anfitrião convidasse muitos colegas do PT. O deputado estranhou, mas acatou o pedido para garantir a presença de um ministro no encontro. Foi assim que, entre pedaços de carne e salsichão, Bresser conseguiu pegar uns cinco ou seis petistas desavisados pelo braço para conversar, mas sem obter muito sucesso, conta ele hoje, dando risada da situação.
Luiz Carlos Bresser-Pereira: "Os ricos nunca gostaram e temem a democracia"
Recentemente, assistimos a um deus nos acuda envolvendo um pedido de Lula para se encontrar com FHC. Bastou a proposta vazar no jornal para que, constrangidos, o primeiro negasse a ideia como se fosse um pecado e o segundo desse uma resposta torta, deixando a entender que o governo Dilma não pode ser "salvo".
Agora, é a reunião com governadores convocada para hoje pela presidente que provoca controvérsia. Na esteira dos acontecimentos, tucanos e petistas trocam acusações e xingamentos. Os três episódios demonstram que, no Brasil, conversar ainda assusta.
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