Transferências ocultas de somas milionários foram o principal motivo da decretação da prisão preventiva de Jorge Luiz Zelada. A detenção do ex-diretor internacional da Petrobras marcou a 15ª fase da Operação Lava-Jato, deflagrada na quinta-feira pela força-tarefa que investiga desvios de recursos e corrupção na estatal. Rastreamento indica que teriam sido transferidos pelo menos US$ 1 milhão para uma conta na China e 7,55 milhões de euros da Suíça para Mônaco (leia mais no quadro). Essa etapa recebeu justamente o nome de Conexão Mônaco.
Zelada foi denunciado em julho de 2014
No pedido de prisão, os procuradores alegaram ao juiz federal Sergio Moro que essa movimentação tinha o objetivo de impedir o bloqueio dos valores. Autoridades da Suíça e do principado de Mônaco enviaram documentos às autoridades brasileiras que indicaram o valor de 10,3 milhões de euros (cerca de R$ 35 milhões) em contas de Zelada no Exterior. Relatório da Receita Federal mostra que ele nunca declarou oficialmente ter ativos fora do Brasil.
O ex-diretor é suspeito de envolvimento em crimes de corrupção, fraude em licitações, desvio de verbas públicas, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. O procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima diz que não há dúvidas de que a fortuna de Zelada tem origem em propinas: - Ele recebia vencimentos significativos na Petrobras, da ordem de R$ 100 mil mensais, mas sabemos que o valor (depositado no Exterior) é originário de corrupção.
Empresa gaúcha é investigada por supostos contratos fictícios
Juiz alerta para risco de não recuperar valores
"A conduta do investigado colocou em risco as chances de recuperação integral dos ativos criminosos. Não se deve excluir a possibilidade de existirem outras contas, pois há indícios de que Jorge Luiz Zelada tem outras contas na Suíça e é provável que seu sócio no Brasil esteja ocultando ativos para ele", diz Moro no despacho da prisão.
A força-tarefa argumenta que há indícios de que o executivo recebeu propina na contratação de um navio-sonda pela Petrobras. Segundo o Ministério Público Federal, também há relatório de auditoria da Petrobras que responsabiliza Zelada por irregularidades no contrato, assinado com a empresa Vantage Drilling.
O relatório afirma que o contrato - além de outros três para construção, compra e operação de navios-sonda - foi celebrado a partir de "premissas otimistas, criando uma expectativa que não se confirmou". O documento atribui culpa ao ex-diretor por não ter seguido procedimentos de governança durante a contratação.
Escoltado por três agentes da Polícia Federal (PF), Zelada deixou seu apartamento no Jardim Botânico, na zona sul do Rio, às 8h42min, levando uma pequena mala. O ex-diretor da Petrobras seguiu sozinho no carro da PF com os agentes, direto para o aeroporto, de onde seria levado a Curitiba.
Indicado pelo PMDB, o ex-diretor da estatal assumiu a área internacional da Petrobras em 2008, em substituição a Nestor Cerveró. A então presidente da empresa, Graça Foster, tirou Zelada do cargo em 2012 quando decidiu reformular as diretorias seguindo determinações da presidente Dilma Rousseff.
A partir daí, peemedebistas passaram a pressioná-la para indicar outro nome da confiança do partido. Em reação, Graça Foster resolveu acumular a função com a presidência da empresa. O criminalista Eduardo de Moraes, que defende Zelada, alega que ainda não teve acesso ao teor da decisão, mas que a prisão é desnecessária.
Lupa em movimentações
- Jorge Luiz Zelada teria transferido pelo menos US$ 1 milhão para uma conta na China - duas operações já estão identificadas, somando US$ 350,1 mil, uma delas no valor de US$ 150 mil, realizada em 27 de outubro de 2014, outra de US$ 200 mil, no dia 22 de dezembro de 2014, valores enviados a título de investimentos para contas em nome de Xia Fern Ying Co Ltd. no Industrial and Commercial Bank of China.
- Entre uma e outra remessa de Zelada, a Lava-Jato deflagrou sua sétima fase, contra o cartel das empreiteiras.
- Antes, entre julho e agosto de 2014 - quatro meses após a deflagração da fase ostensiva da investigação sobre corrupção e desvios na Petrobras, Zelada realizou outras duas transferências no montante de 7,55 milhões de euros da Suíça para Mônaco.
- Para os investigadores da força-tarefa, as transferências entre julho e agosto de 2014 permitem concluir que, receoso de ter contas na Suíça sequestradas, como ocorreu com Paulo Roberto Costa, também ex-diretor da estatal, transferiu os saldos para contas em Mônaco.
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