Leandro Beguoci, editor-chefe da F451, empresa de mídia que publica o Gizmodo Brasil e a Trivela, foi o palestrante da primeira edição do Em Pauta ZH, uma série de eventos mensais que a RBS vai produzir para discutir temas sobre jornalismo.
- O lançamento do Em Pauta ZH é parte de um projeto maior de investimento em jornalismo. É muito importante trazer de volta os temas críticos em jornalismo, os temas de transformação e aqueles temas que hoje fortalecem a imprensa - contou Andiara Petterle, vice-presidente de Jornais e Mídias Digitais do Grupo RBS.
O evento, que ocorreu nesta terça-feira no Salão Nobre do prédio corporativo do Grupo RBS, contou com a presença de professores e alunos de universidades, profissionais do mercado e jornalistas dos veículos da RBS e discutiu o valor do jornalismo na atualidade e os desafios da profissão na revolução digital.
Leandro Beguoci: "A melhor época do mundo para ser jornalista é agora"

Leandro abriu a palestra alertando para a história da Kodak, sua descrença no mercado de fotografia digital e sua consequente decadência.
- Fazer as mesmas coisas num mercado que está mudando esperando um resultado diferente é uma loucura. Jornalismo é bem diferente de filme fotográfico mas temos que nos fazer esses questionamentos - pontuou o palestrante.
O jornalista paulista ressaltou que a revista Time, por exemplo, se define como uma empresa de conteúdo que tem uma versão impressa. Neste contexto, é preciso produzir um novo conceito de empresa de mídia, no qual a companhia não se defina por sua plataforma.
Estrutura de trabalho e formação acadêmica
Leandro também lembrou que a estrutura de trabalho no jornalismo é como uma linha de montagem e que isso precisa mudar.
- Numa redação tradicional, temos o editor, o repórter, o diagramador. As pessoas não têm muita autonomia. É uma profissão muito estruturada, muito industrial. Empreendedorismo é cada vez mais fundamental, temos problemas e necessidades para resolver e suprir. Não podemos ficar esperando que o problema seja resolvido por outro departamento. Temos que mudar nossa forma de trabalhar - afirmou o jornalista.
Laura Glüer, coordenadora de jornalismo da UniRitter, indagou o convidado sobre qual é a formação ideal para o jornalista que vai atuar nesse mercado em constante mudança.
- O novo jornalista precisa trabalhar cada vez mais com linguagens, entender que um vídeo e um infográfico pode se tornar um só dependendo da matéria. Esse profissional precisa entender a importância dos dados e que através deles podemos compreender o comportamento dos consumidores. E, por fim, temos que entender de marketing e negócios. Não podemos formar jornalista que não entendam o mercado onde estão - respondeu Beguoci.
O valor do impacto social
Beguoci defende que os jornalistas são mais do que editores e repórteres, são pessoas que criam conversas e relações. E nesse sentido, precisam criar valor para a comunidade.
- Antigamente, escrevíamos uma matéria e o trabalho estava feito. Hoje, quando terminamos a matéria começamos outro trabalho tão importante quanto a redação. É preciso perceber como essa reportagem circula para o mundo e impacto que está gerando. O jeito de trabalhar mudou - explica.
De acordo com o palestrante, vivemos na era das métricas e dados por isso é preciso mostrar resultados para agregar valor.
- Temos que medir o impacto social do que fazemos. Será que os repórteres não têm de medir quanto tempo levou para consertar o buraco de rua depois da reportagem? A métrica não é apenas quantos exemplares circulam ou quantos cliques um site tem - provocou o paulista.
Neste cenário de mudanças surgem novas questões como: quais são as novas funções em jornalismo? Como definimos o que fazemos? Como inovar num mercado dominado pelo Google e Facebook? Qual o valor do que criamos?
- É uma grande época para ser jornalista, porque temos inúmeras possibilidades e desafios. Não temos todas as respostas. Por isso é preciso experimentar e errar - conclui o empreendedor.